quarta-feira, 30 de maio de 2012


O MUNDO GIRA, A LUSITANA RODA...





Hoje apareceu uma inspiração pra escrever, dei uma olhada no Blog e... caramba!

São mais de 3 meses desde minha última postagem! Nem vou gastar o precioso tempo de vocês me explicando, acho que escrever é assim mesmo, uma hora a vontade chega, de repente vai embora... e na verdade eu estou mesmo é empolgado demais com a banda, com esse lance de compor, de escrever letras, de tocar... acho que minha energia criativa só funciona quando focada em um objetivo único.

Que inveja do Da Vinci, que jogava bem nas 11 e ainda apitava o jogo!

A verdade é que aconteceram algumas coisas recentemente que me colocaram a pensar em como a vida é curiosa, e como algumas atitudes às vezes subestimadas ou mesmo despercebidas que tomamos podem acarretar consequências que perduram no tempo. Coisas que fizeram o bichinho da escrita me roer forte por dentro, de novo.

As situações são distintas, mas paralelas. Duas bandas de rodagem na roda da vida. (Borracharia e budismo na mesma sentença... às vezes acho que preciso de ajuda profissional).

A primeira delas tem ligação direta com a minha condição de espondilítico. Já escrevi muito sobre nossas agruras, também coloquei algumas críticas e observações aqui e ali, mas acho que o texto de hoje vai ser uma "mea culpa" das grandes.

É incrível como muitas vezes eu (acho que todos nós que dividimos essa situação, mas não calço muito bem esses sapatos de "porta-voz" ) fui ou sou egoísta exatamente por estar perdido em uma dor imensa ou com dó demais de mim mesmo pra notar a intenção do outro. Que muitas vezes é a melhor possível.

Precisei ser alvo por duas vezes dessa situação pra enfim compreender o que é estar do outro lado, como é você querer ajudar alguém oferecendo uma palavra amiga, um carinho, uma esperança ou mesmo uma brincadeira, e ser mal interpretado ou rejeitado de forma agressiva e até mesmo mal educada. 

Não sei se minhas reações negativas são ou foram exatamente da maneira que vou descrever. Mas,  em maior ou em menor grau, foram parecidas, e isso é o suficiente.

As duas vezes foram de certa maneira recentes, ambas com pessoas que "conheço" há um bom tempo.

Uma foi a tentativa de dar forças e esperança, algumas palavras de alento para uma amiga que estava "desesperançada" por determinada doença em sua família, e já tratava como caso de morte sem sequer saber os resultados dos exames. Enfim, o coice que levei em retorno foi tão forte, mal educado e agressivo, o choque foi tão grande, que praticamente excluí a pessoa da minha vida.  Há pouco retomei o contato e enfim soube que  tanto ela quanto o tal parente estão bem e vivos. E também soube que a figura sequer tinha percebido que a causa do meu afastamento havia sido essa. Atribuiu meu sumiço a alguma das minhas (muitas) impulsividades... e lá se foram dois anos entre fato e consciência! Agora tá tudo bem. Assim espero.

A segunda é um pouco mais recente, fruto de uma interpretação ruim de uma brincadeira minha que só visava levantar o moral de quem, bem no fundo e inconscientemente, usava a sua condição de fragilidade física, psíquica e emocional como uma espécie de escudo. E que, como todos os escudos, não serve só pra proteger, mas também pra atacar.

Foi o caso. Não sou nenhum santo, sequer o mais paciente dos mortais, e se existe alguma coisa em relação a qual não tenho muita boa vontade é a tal da hipocrisia. Muitas vezes as pessoas estão tão perdidas "curtindo" sua dor, sua depressão e seu mau humor que se revoltam facilmente em relação a uma brincadeira feita com elas. Mas nunca se poupariam de rir se alguma brincadeira parecida fosse feita com outrem.

A solução que encontrei, como sempre, foi o afastamento. Não há razão na insistência, sequer essa discussão levaria a algum lugar. Certas lições precisamos aprender por nós mesmos. Reconhecer, aceitar e mudar. É a cartilha da vida. E que professora implacável ela é! 
E a demora é apenas isso. Uma demora. Anos se passam, a vida inteira passa e os laços que estavam sendo construídos e eram tão bacanas são rompidos por simples questão de orgulho ou, em contraponto, de uma autopiedade excessiva. 

Não cabe a mim julgar, porque seria carrasco e réu. Sequer avaliar se um motivo é mais ou menos justo. Quantas vezes destratei as pessoas que mais amo: minha mãe, meus familiares, minha esposa, foram alvos dessa cegueira egocentrista, por mera explosão impulsiva, transferência dos meus problemas! Até o pessoal da banda, o bando de roqueiros mais educado, bem humorado e carinhoso desse mundo já foi alvo... me ajuda, meu São Hendrix! Que arrependimento.

Mil desculpas mesmo, gente... eu sou um ogro, bem sei. Mas vocês são importantes demais pra mim, nunca me deixem fazê-los pensar o contrário.

Acho que vale o alerta: puxa, pessoal, vamos nos policiar, porque isso magoa pra chuchu (nem sei se a minha escolha de leguminosa foi correta, acho que o chuchu nem é assim, tão, sensível). E se acontecer - porque essas coisas acontecem mesmo - dói muito menos do que a gente pensa pedir desculpas. Sério, eu pus em prática.

 Zé e Xandão. 1993.

A segunda situação tem a ver especificamente com essa foto e com esse cara de azul aí em cima.

Aliás, já vou alertando que esse aqui não é um blog de moda, por isso, tratem de respeitar os nossos "modelitos". Já fui alvo de humilhações mais do que o suficiente por causa do meu cinto, dos suspensórios e da calça "centropeito".

Esse cara aí, na foto, ao meu lado, fazendo propaganda de uma "Brahma" ainda com lata dourada, é o Zé Alberto. Ou simplesmente Beto pra quem o conhecia bem. Já eu, o chamava de Zé, mesmo.

O Zé foi um irmão mais velho com o qual tropecei na faculdade, talvez o único amigo de verdade em meio a tantas pessoas tão diferentes da gente. Sabe aquela música do Leo Jaime, "A Vida não Presta", que diz:

"Você vai, de carro pra escola
e eu só vou à pé
Você tem, amigos à beça
e eu só tenho o Zé..."

Deve ter sido escrita pra mim. Ou então, carece perguntar se não fui eu que fiz, como canta o Milton na sua incrível "Certas Canções".

Fomos unha e carne por uns 3 anos, um belo dia a vida foi nos separando sem nenhum motivo aparente. A distância por causa de relacionamentos,  viagens com a minha banda, problemas familiares, uma soma de coisas que rompeu um elo que parecia indivisível.

Quando me dei conta, já tinha adoecido, me mudado pra uma outra cidade e perdido completamente o contato com o cara.

Sempre convivi com essa perda e essa saudade, imensas, as duas. E com uma culpa inexplicável, como, quando, por quê foi que perdemos contato?

E o destino me armava peças, cheguei a esbarrar com o irmão do cara em Poços de Caldas, os dois com a maior pressa, na certeza de que AGORA nos encontraríamos muitas vezes, pois estávamos na mesma faculdade... pra que? Não mais nos esbarramos... 


Há uns 4 meses, me deparo com uma mensagem dele em um site de crítica de filmes. Apenas umas frases, querendo saber se eu sou eu, essas coisas. Nenhum contato, e-mail, telefone, nada. Eu, é claro, naquele meu jeito exagerado, respondi ali mesmo, deixei e-mail, número de telefone, msn, Facebook, só faltou deixar o CPF.

Levou 4 meses, mas eis que um belo dia recebo um e-mail. E um telefonema.
Pouca coisa nesse mundo vai equivaler à alegria de reencontrar um grande amigo que já considerava perdido. E reencontrar dessa forma, 17 anos depois!

Na próxima quarta feira ele vem me visitar, vai me apresentar suas lindas: esposa e filhinha. E conhecer a Fabi, que é o meu "tudo". Acho que nem vou dormir direito de ansiedade.

É pessoal... ficam duas lições: a primeira, que devemos ser mais atentos a quem nos cerca. Dar "aquele" telefonema, tomar "aquele chopinho"... essas pequenas coisas que ajudam a reforçar a cola que une quem se gosta.

E a outra lição é que o mundo dá suas voltas e não adianta a gente forçar nada. As coisas acontecem da maneira e na hora que precisam acontecer.

"Just in Time".

Termo bem mais moderno do que aquele slogan da companhia de mudanças que "roubei" pra dar nome ao texto de hoje.