quarta-feira, 12 de novembro de 2014

COLATERAL.



Faz algum tempo que eu não escrevo. Aliás, já estão ficando enjoativas as justificativas nesse teor. Fazer o quê, né! Desculpa aí.

Às vezes eu acho que o impulso de escrever o blog é meio que desencadeado pela dor, ou por algum episódio inflamatório... coincidentemente, eis que me encontro em um deles já faz algum tempo.

E foi exatamente lendo umas bulas aqui e acolá que tive a inspiração pra digitar (com certa dificuldade, pois as mãos estão BEM afetadas, dedos em gatilho, "garras" armadas, tou igual uma ave de rapina. Águia careca, talvez?) essa crônica.

Faz um tempão, eu escrevi sobre nossa relação com os medicamentos. Não só a dos doentes crônicos, mas de todas as pessoas. A verdade é que muitas vezes tratamos remédios como balas, crianças inconsequentes que somos. Depois reclamamos dos efeitos colaterais, das reações indesejadas... outras vezes, é claro, somos obrigados a escolher o "menor dos males".

Aliás, foi o uso prolongado dos corticóides que me legou a catarata no começo do ano, também objeto de um texto aqui. Quando paro pra pensar nas outras opções constantes na bula, até que tive muita sorte. Diabo de mania de ler bula! Vocês lêem? Eu leio. Na verdade, eu leio tudo em que coloco as mãos, de folheto de loja de eletrodoméstico ao manual do liquidificador. Sou, como diz a Fabi, um "leitão". Só espero que ela não queira me pururucar no próximo Natal.

Tem gente que lê bula só pra ter o "prazer" de somatizar tudo. Prato cheio pros hipocondríacos. Tem gente que não lê, de medo de sentir aqueles troços todos.
Tem gente que, se ler, não toma o remédio: "eu, hein, melhor ficar gripado do que ser parte do um "porcento" de pessoas que apresentam palidez, palpitações, taquicardia, desconforto precordial, ansiedade, fraqueza, insônia e cefaléia!"

É sempre assim. Você quer corrigir um trocinho só, um "nigucim de nada" como dizemos aqui em Minas, e periga levar um tantão de efeito colateral como troco.
e não vá, incauto mortal, recorrer ao google pra saber o que é desconforto precordial, por exemplo. O coração até dói antes mesmo de você entender o que seja.

Só que alguns desses efeitos colaterais são, digamos, engraçados.
O diabo dos analgésicos e anti-inflamatórios que eu tou tomando parece que foram feitos pra mim. Dentre as dezenas de efeitos colaterais encontram-se:

Tendência a aumento de peso!
Sim, não é aquela pizza com bordas recheadas do restaurante do Hotel Veredas (recomendo, hein!) que me engorda. É o remédio! Que bela desculpa pra chutar o balde: capricha aí no bacon, amigão, vou engordar de qualquer jeito mesmo! O que? Desconforto precordial? E eu sei lá o que é isso, rapaz!

Alopecia!
Dane-se. Já sou careca mesmo. Relativamente...
(já repararam que que todo careca é peludo! Deve ser alguma compensação evolutiva. Tudo bem que não tem cabelo no alto da cabeça, mas as sobrancelhas, as orelhas, os braços... tudo te faz aquela versão light do elo perdido, ou algum cosplay de Tony Ramos, como preferirem).

Faz uma semana eu estava mantendo o meu corte de cabelo, também conhecido como "bola de sinuca", quando, ao puxar papo com o cabeleireiro, descobri que não sou um caso perdido. Tem como fazer um penteado em mim!
O tal penteado tem até nome: "laRgato DAORA".

Ele é assim, ó: começa do lado esquerdo da cabeça, onde fica a cabeça e as patas dianteiras dele. Dá a volta no cocuruto (na nuca) com o corpo e demais patas (evitando assim a GRANDE clareira desmatada do topo da cabeça) e o rabo termina no lado direito, descendo pelas costeletas e emendando com a barba. Um luxo. Da hora mesmo! Mal posso esperar pra não fazer esse troço.


                     "laRgato DAORA. Versão básica pra quem tem cabelo em cima".
                          A "minha", emendando com a barba, é melhor, né não?                     

Flatulência!
Esse é o tipo de efeito colateral que você é que tem, mas quem sofre são os outros. No fundo, é até bacana ter uma opção a mais pra se jogar a culpa, além do cachorro e da pessoa idosa. Desculpem, pessoal, foi o remédio.

Eu bem gostaria que esse efeito fosse inodoro. Ou silencioso. Ou ambos. A verdade é que, geralmente, quanto mais silencioso, pior. Como um ninja: silencioso e mortal. (reparei que os "ninjas" gostam muito de "aparecer" após um jantar de sushi. Coisa de japonês, né!).

O problema com esse efeito colateral é que não se trata de um punzinho tímido e inocente, um único PUM (como a placa do carro do meu primo). Não. A coisa é feia. Tou falando de uma sinfonia inteira, um sonoro e decibélico encadeamento em colcheias de dar orgulho aos bateristas de rock pesado. Aí, quem morre de vergonha é quem está ao seu lado: "Lê, que coisa, tem gente atrás".
Tomara que seja surda. Não sou eu, meu amor. É o medicamento...

Entorpecimento.
Esse eu gosto! Dá uma paaaaz, uma caaaaaalma, um soniiiiinho... o humor fica uma beleza. E a dor... que dor? Dói não, seu moço, posso até colocar o dedo reto que... peraí, dói sim. Dói pra caramba, para, porra, não força!
Se você encontrar comigo e eu disser que tou doidão, é mais ou menos isso que tou sentindo. Mas não aperta minha mão com força, porque dói sim.

Esses são apenas alguns dos efeitos que tou lembrando. Aliás, no momento lembro-me deles quase toda hora, já que tou sofrendo esses troços todos. Como sempre, bem mais leves e melhores que as "alternativas" que eu li na bula.

Podia ser pior. Sempre pode.
Hoje mesmo eu li a bula de um medicamento que a Fabi tá tomando pra diminuir o stress e acalmar o coração.

JURO! Dentre as dezenas de opções "agradabilíssimas" descobri que se fosse eu tomando teria 1% de chances de desenvolver "problemas ejaculatórios". E 1/10.000 chances de ter priapismo (leia-se, mastro sempre em riste!).
Já pensaram o terror que deve ser estar pronto pra coisa o tempo todo, mas não conseguir chegar a tempo hora nenhuma? Ficando mais careca, mais gordo e bem mais peidorrento nesse processo? Socorro!

É por essas coisas que não é interessante tomar medicamentos a seu bel prazer. Mas já que sou obrigado pelas circunstâncias e tenho o aval da dotôra, sigo fazendo meu sonzinho... e ficando mais carequinha... quem sabe eu até faça o tal laRgato DAORA...