quarta-feira, 28 de novembro de 2012

STRANGELOVE.


(Oi, pessoal. 

Brincando com minha prima no Facebook, acabei escrevendo essa crônica.

Diferente do que eu sempre escrevo, mas... quem entende de onde vem a inspiração pra escrever minhas bobagens?)



There'll be times when my crimes
Will seem almost unforgivable
I give in to sin
Because you have to make this life liveable"
(Strangelove - Depeche Mode)



Ninguém consegue imaginar como uma cidade grande pode ser chata em um dia chuvoso, estava pensando o taxista, deitado em seu banco, por baixo de um jornal sensacionalista que havia encontrado no carro, mais cedo. Devia ser do outro motorista, do turno da noite.

Não que pudesse reclamar, afinal, quanto pior o clima, maior a clientela, e melhor a grana, já que pior também ficaria o trânsito.

Mas o dia estava meio decepcionante. Estacionado no ponto de táxi daquele shopping center de bacana, já tivera que amedrontar alguns taxistas "locais", bando de trogloditas agindo como uma matilha. Mas não com ele.

Ligou o som. Bem alto. Queria pensar melhor, sem a barulheira do estacionamento. Mal conseguiu escutar as batidas no vidro.

- Tá livre? (uma voz feminina...)

- Depende... (maldita impulsividade!) quer dizer, tou sim, entra aí.

Disfarçou enquanto olhava a moça pelo retrovisor... hmmm... o dia já ficou bem mais interessante.


- E aí, vai pra onde?  (perguntou, já abaixando o som do carro)

A moça grita:

- Espera! Não abaixa! Aumenta! Amo essa banda!

- Tá. Aumento. Mas vai pra onde?

- Pro Cruzeiro. Segue aí a Contorno, depois pega a Afonso Pena.

- Não quer que eu corte pela Grão Mogol?

- Não. Quero curtir o som. Amo Depeche Mode.

(Depeche Mode... pensou o motorista... hmmm... é daquelas. Já engatando a primeira e deixando passar um ônibus, abarrotado)

- Você é dessas.

- Dessas o quê?

- Esquece.

- Não, pô. Fala! Vou me ofender.

- Calma. Dessas moças que curtem um som alternativo.

- E o que que tem a ver? Isso quer dizer o quê? que eu curto drogas, beijar meninas, que eu não tomo banho?!

- Calma... só tou falando.

- Aumenta mais o som. Adoro a I Just Can't get enough. Aliás, pra um taxista, até que tem um gosto musical bacana.

- Obrigado. Gosto de ouvir o que é bom. Qual o seu nome?

- Ana.

- Gosto de Ana. Adoro pessoas-palíndromo. São constantes, mantém-se iguais não importa como você as leia.


- E você lê pessoas, é, Nelson?

- Como é que sabe o meu nome?

- Tá ali ó, escrito no cartãozinho.

- Verdade!

- Você não se parece com a foto.


- É antiga.

- E então você lê as pessoas, né. Leia-me.

- Você é romântica mas gosta dos Ramones. Tá chateada porque teve
 um dia decepcionante. Conheceu um carinha no Facebook e veio pra esse shopping de playboy encontrar com ele. Só que ele era muito certinho, usava as meias combinando com a camisa. Ou com a cueca. Você queria bater papo e beber, ele sugeriu que assistissem o último episódio do Crepúsculo e depois comessem AQUELA saladinha... você saiu correndo e deixou o cara falando sozinho.

- Nossa!

- Acertei?

- Não. Errou tudo. Quase tudo. Só acertou os Ramones porque viu minha tatuagem, né? Entra nessa próxima rua aí, tamos quase chegando.

- Ok. Aqui?


- Pode ser. Aqui tá bom.

- Mas tá chovendo.

- Aqui tá bom.

- Ok. Deu nove reais. Faço por oito.

- Tudo bem. Toma. Fica com o troco.

Ela desce do carro, ele acelera. De cantar pneu na chuva. Um pouco assustada, faz sinal pra outro taxi que - sorte - passava ali na mesma hora. Entrando no carro, ainda consegue escutar, ao longe, o rádio do outro táxi, esgoelando Strangelove. Devia ser um disco inteiro do Depeche Mode.

Horas depois, o motorista está em casa. Nu, na frente do espelho, brincando com uma faca.  E ouvindo música, bem alto.

- Não entendi (diz o reflexo).

- Não entendeu o quê? (responde o motorista).

- Você não gosta de Depeche Mode. Gosta de Roberto Carlos. De vez em quando do Elymar Santos. Nem sabe falar inglês! O cd era da outra moça!

- Não interessa. Gostei dela. Queria ela.

- Mas você gosta de louras. A Ana era morena.


- E daí. Quero variar. (a faca deslizou lascivamente por seu peito, cheio de cicatrizes)

- Bem, ela desconfiou. Acho que desceu do carro antes de chegar em casa.

- Não faz mal. Essa cidade é cheia de Anas. Essa aí nunca vai saber de nada.

- Acho que arriscou. Não devia dar bobeira assim.

-Ah, cala a boca (diz o motorista, socando o espelho).

Mil reflexos o olharam de volta, sorrindo com sarcasmo. No som, Roberto Carlos cantava que o cara, afinal, era ele.


Enquanto isso, do outro lado da cidade, na Pedreira Prado Lopes, a polícia encontrava um táxi abandonado. Um Fiat Idea, branco. No porta-malas, os corpos de três pessoas. O motorista, identificado como Nelson. E duas moças, loiras, jovens. Provavelmente prostitutas. Irreconhecíveis de tão mutiladas.

E a cidade, agora sem chuva, se preparava pra mais uma noite.


quarta-feira, 30 de maio de 2012


O MUNDO GIRA, A LUSITANA RODA...





Hoje apareceu uma inspiração pra escrever, dei uma olhada no Blog e... caramba!

São mais de 3 meses desde minha última postagem! Nem vou gastar o precioso tempo de vocês me explicando, acho que escrever é assim mesmo, uma hora a vontade chega, de repente vai embora... e na verdade eu estou mesmo é empolgado demais com a banda, com esse lance de compor, de escrever letras, de tocar... acho que minha energia criativa só funciona quando focada em um objetivo único.

Que inveja do Da Vinci, que jogava bem nas 11 e ainda apitava o jogo!

A verdade é que aconteceram algumas coisas recentemente que me colocaram a pensar em como a vida é curiosa, e como algumas atitudes às vezes subestimadas ou mesmo despercebidas que tomamos podem acarretar consequências que perduram no tempo. Coisas que fizeram o bichinho da escrita me roer forte por dentro, de novo.

As situações são distintas, mas paralelas. Duas bandas de rodagem na roda da vida. (Borracharia e budismo na mesma sentença... às vezes acho que preciso de ajuda profissional).

A primeira delas tem ligação direta com a minha condição de espondilítico. Já escrevi muito sobre nossas agruras, também coloquei algumas críticas e observações aqui e ali, mas acho que o texto de hoje vai ser uma "mea culpa" das grandes.

É incrível como muitas vezes eu (acho que todos nós que dividimos essa situação, mas não calço muito bem esses sapatos de "porta-voz" ) fui ou sou egoísta exatamente por estar perdido em uma dor imensa ou com dó demais de mim mesmo pra notar a intenção do outro. Que muitas vezes é a melhor possível.

Precisei ser alvo por duas vezes dessa situação pra enfim compreender o que é estar do outro lado, como é você querer ajudar alguém oferecendo uma palavra amiga, um carinho, uma esperança ou mesmo uma brincadeira, e ser mal interpretado ou rejeitado de forma agressiva e até mesmo mal educada. 

Não sei se minhas reações negativas são ou foram exatamente da maneira que vou descrever. Mas,  em maior ou em menor grau, foram parecidas, e isso é o suficiente.

As duas vezes foram de certa maneira recentes, ambas com pessoas que "conheço" há um bom tempo.

Uma foi a tentativa de dar forças e esperança, algumas palavras de alento para uma amiga que estava "desesperançada" por determinada doença em sua família, e já tratava como caso de morte sem sequer saber os resultados dos exames. Enfim, o coice que levei em retorno foi tão forte, mal educado e agressivo, o choque foi tão grande, que praticamente excluí a pessoa da minha vida.  Há pouco retomei o contato e enfim soube que  tanto ela quanto o tal parente estão bem e vivos. E também soube que a figura sequer tinha percebido que a causa do meu afastamento havia sido essa. Atribuiu meu sumiço a alguma das minhas (muitas) impulsividades... e lá se foram dois anos entre fato e consciência! Agora tá tudo bem. Assim espero.

A segunda é um pouco mais recente, fruto de uma interpretação ruim de uma brincadeira minha que só visava levantar o moral de quem, bem no fundo e inconscientemente, usava a sua condição de fragilidade física, psíquica e emocional como uma espécie de escudo. E que, como todos os escudos, não serve só pra proteger, mas também pra atacar.

Foi o caso. Não sou nenhum santo, sequer o mais paciente dos mortais, e se existe alguma coisa em relação a qual não tenho muita boa vontade é a tal da hipocrisia. Muitas vezes as pessoas estão tão perdidas "curtindo" sua dor, sua depressão e seu mau humor que se revoltam facilmente em relação a uma brincadeira feita com elas. Mas nunca se poupariam de rir se alguma brincadeira parecida fosse feita com outrem.

A solução que encontrei, como sempre, foi o afastamento. Não há razão na insistência, sequer essa discussão levaria a algum lugar. Certas lições precisamos aprender por nós mesmos. Reconhecer, aceitar e mudar. É a cartilha da vida. E que professora implacável ela é! 
E a demora é apenas isso. Uma demora. Anos se passam, a vida inteira passa e os laços que estavam sendo construídos e eram tão bacanas são rompidos por simples questão de orgulho ou, em contraponto, de uma autopiedade excessiva. 

Não cabe a mim julgar, porque seria carrasco e réu. Sequer avaliar se um motivo é mais ou menos justo. Quantas vezes destratei as pessoas que mais amo: minha mãe, meus familiares, minha esposa, foram alvos dessa cegueira egocentrista, por mera explosão impulsiva, transferência dos meus problemas! Até o pessoal da banda, o bando de roqueiros mais educado, bem humorado e carinhoso desse mundo já foi alvo... me ajuda, meu São Hendrix! Que arrependimento.

Mil desculpas mesmo, gente... eu sou um ogro, bem sei. Mas vocês são importantes demais pra mim, nunca me deixem fazê-los pensar o contrário.

Acho que vale o alerta: puxa, pessoal, vamos nos policiar, porque isso magoa pra chuchu (nem sei se a minha escolha de leguminosa foi correta, acho que o chuchu nem é assim, tão, sensível). E se acontecer - porque essas coisas acontecem mesmo - dói muito menos do que a gente pensa pedir desculpas. Sério, eu pus em prática.

 Zé e Xandão. 1993.

A segunda situação tem a ver especificamente com essa foto e com esse cara de azul aí em cima.

Aliás, já vou alertando que esse aqui não é um blog de moda, por isso, tratem de respeitar os nossos "modelitos". Já fui alvo de humilhações mais do que o suficiente por causa do meu cinto, dos suspensórios e da calça "centropeito".

Esse cara aí, na foto, ao meu lado, fazendo propaganda de uma "Brahma" ainda com lata dourada, é o Zé Alberto. Ou simplesmente Beto pra quem o conhecia bem. Já eu, o chamava de Zé, mesmo.

O Zé foi um irmão mais velho com o qual tropecei na faculdade, talvez o único amigo de verdade em meio a tantas pessoas tão diferentes da gente. Sabe aquela música do Leo Jaime, "A Vida não Presta", que diz:

"Você vai, de carro pra escola
e eu só vou à pé
Você tem, amigos à beça
e eu só tenho o Zé..."

Deve ter sido escrita pra mim. Ou então, carece perguntar se não fui eu que fiz, como canta o Milton na sua incrível "Certas Canções".

Fomos unha e carne por uns 3 anos, um belo dia a vida foi nos separando sem nenhum motivo aparente. A distância por causa de relacionamentos,  viagens com a minha banda, problemas familiares, uma soma de coisas que rompeu um elo que parecia indivisível.

Quando me dei conta, já tinha adoecido, me mudado pra uma outra cidade e perdido completamente o contato com o cara.

Sempre convivi com essa perda e essa saudade, imensas, as duas. E com uma culpa inexplicável, como, quando, por quê foi que perdemos contato?

E o destino me armava peças, cheguei a esbarrar com o irmão do cara em Poços de Caldas, os dois com a maior pressa, na certeza de que AGORA nos encontraríamos muitas vezes, pois estávamos na mesma faculdade... pra que? Não mais nos esbarramos... 


Há uns 4 meses, me deparo com uma mensagem dele em um site de crítica de filmes. Apenas umas frases, querendo saber se eu sou eu, essas coisas. Nenhum contato, e-mail, telefone, nada. Eu, é claro, naquele meu jeito exagerado, respondi ali mesmo, deixei e-mail, número de telefone, msn, Facebook, só faltou deixar o CPF.

Levou 4 meses, mas eis que um belo dia recebo um e-mail. E um telefonema.
Pouca coisa nesse mundo vai equivaler à alegria de reencontrar um grande amigo que já considerava perdido. E reencontrar dessa forma, 17 anos depois!

Na próxima quarta feira ele vem me visitar, vai me apresentar suas lindas: esposa e filhinha. E conhecer a Fabi, que é o meu "tudo". Acho que nem vou dormir direito de ansiedade.

É pessoal... ficam duas lições: a primeira, que devemos ser mais atentos a quem nos cerca. Dar "aquele" telefonema, tomar "aquele chopinho"... essas pequenas coisas que ajudam a reforçar a cola que une quem se gosta.

E a outra lição é que o mundo dá suas voltas e não adianta a gente forçar nada. As coisas acontecem da maneira e na hora que precisam acontecer.

"Just in Time".

Termo bem mais moderno do que aquele slogan da companhia de mudanças que "roubei" pra dar nome ao texto de hoje.





terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

MANÍACO SERIAL.


Caricatura Digital por Castello.


E aí, pessoal! Como está o carnaval por aí? 

Eu gosto muito do carnaval. Do FERIADO, estejamos bem entendidos. 
O motivo pela minha aversão à festividade eu já contei em algum texto por aqui. Boa desculpa, quem sabe, pra você que está chegando agora procurar as outras crônicas. 


Outro dia me deparei no Facebook com uma daquelas críticas "pseudointelectualóidescomdordebarriga", explicando o por quê do povo brasileiro não ler e nos comparando com outros países do continente.

E a conclusão: brasileiro não lê porque: a) os livros são caros; b) não existem muitas livrarias e c) as obras "obrigatórias" nas escolas e exigidas nos vestibulares são "antigas demais e fora de consonância com a atual realidade".

Esse tipo de "estudo" é tão ridículo que nem mereceria muitos parágrafos de comentários. Basta imaginar o quanto um brasileiro médio gasta com cerveja e tira-gosto no final de semana pra começar a entender que livros até que não são tão caros assim. Aliás, as bibliotecas SEMPRE foram gratuitas... sem falar no livre acesso às obras (e-books) em livrarias e sebos virtuais, o que já coloca por terra o segundo argumento. Nessa semana mesmo comprei um livro - novo - de quase 700 páginas por R$ 29,90 em uma delas. ISSO é caro? 

A terceira, a meu ver, é a mais furada de todas. Não consigo conceber a "enorme diferença" de compreensão entre o Machado de Assis dos meus tempos de escola e dos jovens de hoje. Aquele Brasil "republicano de fraldas" já era "antigo e ultrapassado"  também na minha época, oras! 

E nem por isso tive dificuldades em me situar em outro tempo, em outras situações, ou em me adequar a uma outra linguagem... enfim, não é pra isso mesmo que deveriam servir os livros?!

Sinceramente, qual seria a graça de apenas ler sobre a nossa realidade e tempo? As temáticas, sejam no século XIX, sejam as tragédias gregas de 500 anos antes de Cristo não são atemporais?
Acho que a mudança nessas três últimas décadas é muito menos tecnológica e muito mais comportamental.

Estamos criando gerações de futuros adultos preguiçosos, dependentes, irresponsáveis e sem imaginação. E tudo isso com o "patrocínio" de políticas estatais, com o "apoio" de doutrinas religiosas ou com o "interesse" de redes de televisão.

A verdade é que o brasileiro - como massa, como povo - não gosta de ler. Nem legendas em filmes no cinema - que não deixava de ser um mínimo de leitura - estamos encontrando mais. As cópias originais legendadas estão DESAPARECENDO das salas de exibição. Que não reclamem da evasão do público, ou do decréscimo na renda, se as pessoas optarem por BAIXAR na internet a versão original.

Eu sei. A questão não é tão simples. Como quase sempre, exagero um pouco. É que fica difícil não se revoltar quando você assiste, sei lá, uma estória passada na primeira guerra mundial narrada por um dos personagens do Dragon Ball... ou encara um drama familiar pesado onde a pobre protagonista chora as suas mazelas com a voz da Dona Florinda. Juro que sempre pensei que o dublador do Brad Pitt, o Aquiles no filme Troia, também fazia a voz do Barney Rubble. Aquele "tem mais alguém" não me engana.

Vejam bem, eu também cresci acompanhando os enlatados americanos e japoneses. Também prefiro o "Esquadrão Classe A", a "Super Máquina", o "Chips", o "Ultramen" e muitos outros soando em bom português. Aliás, JAMAIS vou me acostumar com a voz original dos Simpsons. Existem os bons e os maus dubladores. Infelizmente os GRANDES mestres, ou já morreram, ou estão velhinhos. E pra cada bom novo dublador - o Selton Mello por exemplo -  uma dezena dos ruins aparece.

Seriados... ah, os seriados! Agora cheguei onde queria. Essa introdução "reclamona" toda apenas pra dizer que eu sou um viciado irrecuperável. E nunca houve uma safra tão boa! 

Como imaginaria um dia encontrar séries como a Boardwalk Empire, de "gangsters", produzida pelo Martin Scorsese... um "poderoso chefão" em capítulos!

Ou como a Guerra dos Tronos, que encontrei primeiro na telinha pra só depois poder devorar os livros e concluir que, sim, são idênticos e muito, muito bons.

Séries onde os roteiristas não têm medo de matar um personagem central, de  criar uma reviravolta completa e inesperada na trama.

Ou a Californication? Abduziram o David Duchovny e o transformaram de detetive nerd apagadão em um escritor galã com uma inspiraçãozinha no Bukowski.

Dexter... ah, o Dexter. Todo mundo que conheço, de repente, se viu torcendo pra um completo maluco. Isso não acontecia, sei lá, desde o filme O Silêncio dos Inocentes.

Hell on Wheels, uma lição sobre a história norte americana de me fazer lembrar de livros como o "Enterrem o meu coração na curva de um rio". Sem falar que é um western e eu sou doente por westerns. E pela segunda guerra mundial: Band of Brothers, The Pacific... e eu já conhecia o Stephen Ambrose de antes, bem antes.

Sons of Anarchy. Pusta trilha sonora. Acho que essa série está causando o efeito nos motoclubes que o filme Easy Rider causou nos jovens na década de 60. De repente todos eles adotam o visual, as "patches", as tatuagens de costas inteiras com o nome do grupo.

Nem vou falar de séries como a Spartacus, que melhorou ainda mais aquilo que vi anos atrás nas duas temporadas de ROMA. Intrigas, sangue e mulher pelada... pra quem curtia o Conan nos quadrinhos e nos filmes é o paraíso.

Agora me aparece a Luck. Dustin Hoffman. Nick Nolte. Michael Mann dirigindo o piloto. Fala sério! Se pra cada filmeco como o último Transformers acompanharmos uma série incrível como a Luck, eles que fiquem com seus filmes dublados! 

E, é claro, The Walking Dead. Foram tantas as brincadeiras e menções a essa série hoje pela manhã que me inspirei a escrever esse pequeno texto. 

Nunca gostei de zumbis. Talvez por já encarar um, personalíssimo, cada vez que me olho no espelho. A verdade é que as estórias sempre foram simples demais, superficiais demais. Tirando o "Fome Animal", nunca curti nenhum filme desses. Finalmente se redimiram, em uma série de televisão onde o cérebro dos protagonistas (e por consequência, dos espectadores) serve pra algo mais que um banquete.

A verdade é que, nos filmes, mais visível do que nas demais artes em geral, as produtoras e estúdios só apostam no que tem "retorno certo". 

As emissoras de televisão seguem a tendência. Salva-se uma ou outra boa série ou minissérie da rede globo, uma espécie de pedido de desculpas pra cada edição do BBB ou programinha como "amor e sexo" que aparecer.

Tudo isso - essas séries bem escritas, bem produzidas, em linguagem atual - é apenas uma demonstração de que sim, dá pra se consumir cultura com uma qualidade acima da média. 

Melhor ainda se essas estórias te fizerem procurar um "algo a mais". Um filme  do Scorsese, um livro do Bukowski, uma revista em quadrinhos européia, um disco da Dusty Springfield ou do Terry Reid.

Hoje em dia está tudo ali, mastigadinho, a um clique de distância. Basta QUERER.







segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

EMPATIA.


Certo dia você acorda e descobre que não está conseguindo se mexer. 

Aliás, está difícil até mesmo se levantar da cama. Uma dor forte, parece aquela dor na coluna de quando você exagerava carregando peso ou ficava horas assentado em uma posição incômoda. Parece... mas... espera aí, é bem mais forte! Bem mais. Aliás, acho que não está doendo só  a coluna. Vou chamar a minha mãe, meu marido ou esposa, meu irmão, o Jaspion, sei lá, vou chamar os bombeiros. Socorro!

Todo mundo que sofre da espondilite anquilosante passa por alguma situação mais ou menos parecida. É o começo daquilo que vai mudar sua vida pra sempre, quer você queira, quer não; quer você aceite e lute, quer você se revolte e se entregue.

Ultimamente conheci tantas pessoas na mesma situação que resolvi escrever esse pequeno texto... sem a pretensão de ensinar ninguém, sem cientificismo. Isso a gente encontra aos montes pela internet afora.  Também não pretendo restringir o assunto à minha experiência. Apesar do que não posso evitar tratá-lo sob minha ótica personalíssima.

Apenas minha opinião sobre o preconceito e sobre esse começo tão difícil, que no meu caso logo vai fazer aniversário de 15 anos.

Sem baile. O Caio Castro tá com a agenda lotada, então a minha espondilite vai ter que dançar sozinha. Quer dizer: ela toca a música. Quem dança sou eu. Mas, se tenho que dançar, então danço à minha maneira.

A espondilite se manifesta de forma tão diversa quanto a personalidade das pessoas. Tem gente que fica ANOS convivendo com aquilo que acha ser uma dor nos ossos ou na coluna, controlável com analgésicos. Pra mais tarde cair naquela situação que eu descobri já na primeira manhã como doente crônico. Outras pessoas nunca sofrem grandes consequências, continua praticando esportes e levando uma vida normal.

Mas eu não estou exagerando. Nos casos mais agressivos, começa assim mesmo. Do dia pra noite. Você dorme de um jeito, acorda de outro.

Mais tarde, quando você para pra pensar bem, vai começar a encontrar alguns sinais,  fatos tão comuns que não serviriam de alerta exceto porque acabaram tendo mesmo ligação direta: dor de coluna frequente, algum problema respiratório (uma gripe longa, tosses incessantes), algum  problema nos olhos (uma conjuntivite longa, por exemplo) ou nos intestinos (uma diarreia inexplicável)... no meu caso foi uma soma: conjuntivite + tosses + um "torcicolo" que durou uns dois meses. 


Era o começo da "revolução do meu corpo contra ele mesmo".

Na maioria das vezes, as dores são na lombar... é aquela dor fortíssima nos nervos das pernas (ciático), aquela dificuldade pra se levantar ou abaixar, comigo foi meio atípico pescoço primeiro, o resto veio depois. E rapidamente. O torcicolo sumiu por uns tempos, mas depois daquela manhã, ele voltou com tudo. Todo o corpo doía, mas a cervical era o que mais incomodava. 

Nunca fui o mais flexível dos mortais. Mas conseguia fazer o básico: dar cambalhotas, assentar no chão, amarrar os sapatos... de repente me vi transformado no Robocop. Igualzinho: virando o corpo inteiro pra poder olhar ao redor.

Uma outra coisa que "descobri" nas minhas conversas com as pessoas: o fator emocional é DETERMINANTE. Sério. Nunca conheci um esponditítico que não tivesse passado por alguma emoção fortíssima no período imediatamente anterior à manifestação. E não estou falando só de emoções negativas não, apesar dessas serem a imensa maioria. Conheço gente que ficou ruim depois de receber uma notícia muito boa! Ironia fina. 

Outro fator comum a todos nós é a "via crucis" em busca de um diagnóstico e de um tratamento. Não vou entrar em detalhes nesse texto, porque minhas desventuras (e as de muitos amigos) estão espalhadas pelas outras postagens.

Viramos presa fácil de milagreiros, macumbeiros,  oportunistas e médicos despreparados.

Isso ainda acontece, mas, felizmente, um pouco menos, ano a ano. Graças a briga de muitos de nós pelo reconhecimento de que estamos todos (médicos, pacientes e sociedade) despreparados para diagnosticar ou para lidar com muitas doenças crônicas, ainda mais as auto-imunes, tão mutantes!

E, é claro, a face mais chata de tudo isso: o preconceito.

Não foi meu caso (ufa!), mas já me relataram situações tão absurdas quanto àquelas que alguns de nós que temos um pouco mais de idade acompanhamos quando do aparecimento - por exemplo - da AIDS.

Sério, tem gente que acha que espondilite pega com um toque ou ao se compartilhar um copo! São casos mais isolados e sem nexo, mas nem por isso inexistentes.

A maioria de nós sofre o preconceito profissional: viramos preguiçosos e lentos. Viramos mentirosos que "inventam" uma dor pra poder fugir das nossas responsabilidades. Fingidos profissionais. Já falei disso antes...

Ou as sanções sociais: ser um deficiente físico em uma sociedade concebida por e para quem não tem problemas de saúde.

Depender do auxílio do Estado quando a saúde pública está corrompida por casos falsos de doenças graves como a nossa - em busca da aposentadoria; por desvio de medicamentos; pelo mal caratismo de quem se aproveita daqueles que estão mais fracos.

Pagamos o preço da burocracia e das exigências absurdas, da demora para a concessão de uma aposentadoria por invalidez,  para o fornecimento de um medicamento de alto valor, na interrupção de um tratamento pelo desaparecimento do medicamento ou pelo medo.

Pagamos o preço até mesmo pela justificável dúvida de Juízes e Promotores em relação ao seu caso, receio de se envolver em um escândalo, em uma situação que garanta o gasto de centenas de milhares de reais com uma pessoa mal intencionada: o tratamento de um espondilítico com medicamentos biológicos chega a custar mais de 200 mil reais anuais para os cofres públicos.

Literalmente pagamos o preço pelos pecados alheios. Mas isso não se restringe à saúde pública.

Já soube, por outro lado, de casos de pessoas que recebiam os seus medicamentos e os repassavam a um preço "abaixo de tabela", pra ganhar uma grana com isso. Preferem morrer "ricos" a se tratar. Também quem se corrompe não ajuda em nada.

É um "outro lado da moeda" para o qual muitos de nós fecham os olhos ao reclamar em voz alta. Acredito de verdade que a aposentadoria por invalidez é tão difícil não por "maldade", mas por excesso de zelo. 

Mas nada dói mais do que quando isso se estende à opinião dos nossos entes mais próximos e mais queridos.

Felizmente, minha família é incrível e nunca deixou de me apoiar e de me ajudar em todos os momentos tão difíceis dessa minha caminhada manca. O mais próximo que cheguei disso foi ser deixado (ou abandonar, já que eu terminei a relação a contragosto) por minha namorada na época, que achou mais fácil me presentear com um par de chifres do que assumir que não teria forças pra lidar com uma pessoa tão "problemática" quanto eu.

Todavia, existe gente que sofre isso no dia a dia. Acusação e abandono por parte dos seus familiares, amigos, maridos ou esposas. Todos lavam as mãos  ao lidar com o "preguiçoso reclamão".

Como é chato ver a indignação triste de pessoas que não recebem o básico que se espera de quem nos ama: a compreensão.

Não a compreensão do que é a doença, dos detalhes clínicos, isso tudo é complicado mesmo para os médicos, mas a compreensão de que ali está uma pessoa que você ama e que precisa da sua ajuda, depende um pouco das suas forças, já que não pode mais contar com as próprias.

EMPATIA. Eis a palavra.

Eu já aguentei olhos acusadores de "amigos", de colegas de trabalho... mas não consigo conceber o sentimento dolorido de ter que aguentar esse tipo de suspeita dentro de casa. Vindo de quem deveria nos conhecer acima de tudo e de todos.

É inegável o fato de que os doentes crônicos também devem procurar fazer a sua parte. Não se entregar à total inatividade, não depender apenas do outro pra melhoria de sua condição. Guardar a reclamação pra quando esta se fizer realmente necessária.  Na vida, é tudo uma troca. Não espere um olhar transigente de quem você só trata com pedras nas mãos.

Se você é familiar, cônjuge (uma das palavras mais feias da língua portuguesa, segundo o Rubem Braga. E tem razão, o Mestre), amigo próximo de um doente crônico, leia esse texto de novo. Procure se colocar no lugar dele.

Tenha paciência com o choro, a lentidão, o mal humor e as reclamações.

Imagina de repente o que é ter uma "dor" doendo o tempo todo em todos os ossos do seu corpo. Ou o que é acordar inexplicavelmente prostrado,  por não saber que o seu sistema imunológico já consumiu sozinho boa parte de sua energia. Ou a frustração de depender das outras pessoas pra coisas tão simples quanto se vestir. Ou sofrer silenciosamente porque o seu problema é tão embaraçoso, íntimo e incômodo, que você não tem como expor.

A coisa piora quando o problema é "invisível", não aparece. Quem sofre com o mal de Crohm sabe exatamente do que eu estou falando.

Você fica mal humorado por uma dor de dente ou de cabeça. Distribui fel porque o trânsito estava ruim ou o seu chefe insinuou que você era incompetente. 

Que tal um olhar um pouquinho mais condescendente pra pessoa que está ali ao seu lado? Que só espera de você carinho, companheirismo, paciência e compreensão?

Eu sou um felizardo. Sou presenteado por aqueles que me cercam com tudo isso e muito mais.

Será por isso que minha aceitação das minhas limitações e dos meus problemas, o meu humor e positivismo, a minha força e persistência são tão aparentes? 



Porque eu sou assim não apenas por mim mesmo, mas também pelas pessoas que amo.

Pra que a luta de todos nós tenha algum sentido.


terça-feira, 31 de janeiro de 2012

NOTICIÁRIO.



Como é bom poder retomar esse hábito! 

Não sei se sentiram falta do Blog, que subitamente foi "descoberto" pelos meus concidadãos, graças ao post que tinha minha querida cidade como tema. 

Sejam todos bem vindos.

Apesar do título, não esperem ler aqui um resumão das tragédias que acompanhamos na mídia. Minhas pretensões são bem outras.

Nem dez dias parado e parece que fiquei um mês sem escrever. Aliás,  o Antinflamatório faz aniversário de um mês amanhã. Não, eu não vou soltar foguetes, fiquem tranquilos, meus vizinhos.

Até pensei em continuar a escrever o Blog naquela Lan House de Varginha, enquanto esperava a Fabi fazer o seu curso, mas é impossível raciocinar direito quando cerca de 10 moleques estão trocando tiros nos jogos de computador. Aliás, se a razão dos fones de ouvido é não permitir que o som do seu jogo incomode o seu vizinho, pra quê inventam de colocar microfones? A molecada conversa entre si online e dá-lhe grito. Nem pensei em entrar no jogo, eles são "matadores profissionais"! Enfim, foi até divertido.

A "novidade" do dia é que eu estou surdo. Quer dizer. Meio surdo. Aquela gripe fortíssima com dor de ouvido que eu tive entre o Natal e o Réveillon me deixou um presentinho de grego, revelado ontem pelo Dr. Flaviano: uma "disfunção tubária" - que é como chamam um canal auditivo logo depois do tímpano. 

Tem um "gato na minha tuba!" 

Aliás, pra quem, como eu, sempre achou a orelha parecida com uma concha acústica, os nomes são bem interessantes: tímpano! tuba! trompa de Eustáquio! (o outro nome da Tuba, parece que não decidiram qual instrumento homenagear. Deve ser culpa do tal Eustáquio).

Tem uma orquestra inteira ali dentro! Se somar o martelo e a bigorna, dá até pra fazer um "pós industrial sinfônico". Grandioso.

Ainda bem que estar meio surdo não me atrapalhou de compor as músicas com o pessoal da banda. E digo pra vocês: se escutando METADE da coisa eu já estou achando tudo fenomenal, que pancada devem ser aquelas músicas! Estou só fazendo um merchandising aqui: Rural Willys, anotem esse nome. Mas podem chamar carinhosamente de RURAL mesmo,  até combina com esse meu jeitão de "roqueiro jacu".

Enquanto isso, lá no Grupo de Espondilíticos do Facebook (ele existe no Orkut também, mas o "Face" tá mais na moda), a turma continua tendo boas idéias.

A Patrícia Krug resolveu pegar no pé do Senador Aécio. Eles são amigos (sei lá se virtuais ou de infância) e a pressão pra que os políticos escutem a nossa categoria - que pode até ser capenga, mas é barulhenta - tá grande. No mínimo devemos estar chamando a atenção de um assessor responsável pelo Facebook do Senador. Bem, eu vou fazendo a minha parte aqui, à minha maneira. 

Aliás, a Patrícia é uma grande pintora. Em breve vou expor o trabalho dela (que pra mim é um MIX de Miró com Monstros S.A, uma graça) e o de outros irmãos talentosos por aqui. 

Meu "desafio de leitura" segue em frente. Pra quem não sabe, inventei uma gravura, a exemplo daquelas que o pessoal posta no Facebook ("essa pessoa vai beber uma dose de cachaça a cada curtir" ; "essa pessoa vai beijar uma pessoa diferente no carnaval pra cada curtir") vocês sabem o que eu estou dizendo.

O meu dizia: "Essa pessoa lerá um livro pra cada curtir". Como esperado, não tive muitos compartilhamentos. Mas quando dei um basta, já eram 42 "curtir". (E mais 6 de lambugem - o povo fala "lambuja", já notaram? - depois do meu grito desesperado de chega!).

Bem, janeiro quase acabou e estou no finalzinho do 5º livro. E o 6º já foi-me presenteado pela minha amantíssima esposa: aquele, das gordinhas, do Jô Soares. (As esganadas).

Essa semana também começa o carnaval antecipado aqui na roça. Belíssima estrutura. Se a ideia era não fazer o povo fugir da cidade, antecipando o carnaval e criando uma boa opção, digo que acertaram em cheio. Devem até atrair os nossos vizinhos. Tomara que continuem no próximo ano, já que a tendência dos eventos na cidade é que fiquem menores e menores até desaparecer de vez.

Eu não gosto de carnaval. Só do feriado. Não saber dançar - e não poder pular - pouco ajuda também. Ter parado de beber só contribui, já que agora sou obrigado a aturar a coisa toda sóbrio. Meu "carnaval" vai ser no meio do ano, lá no 
Roça n' Roll . Atenção pessoal: esse ano eu entro!

É que há uns anos atrás estava tão divertido lá fora, a galera tão animada,  e eu bebi tanto ANTES de entrar que a Fabi achou melhor remover aquela girafa roqueira bêbada, trançando as quatro patas (eu estava de muletas) antes que pudesse dar mais trabalho. Uma pena. Pelo que demonstrei, eu tinha tudo pra ganhar o troféu Linda Blair de vômito a distância. Eca.

Vou ficando por aqui. Resolvi atualizar o "noticiário", pra retomar as idéias e  relembrar como se escreve. 

E também porque estava com saudades disso tudo. E vocês?


quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

VOLTO LOGO.


É engraçado como às vezes a gente planeja uma coisa e ela simplesmente não acontece, por mais que nos esforcemos.

Planejei escrever nesse Blog quase todo dia. 

Agora me vejo cheio de idéias, mas sem tempo pra escrever. 

Os motivos são bons, e justos: semana cheia, com consultas (que são feitas em outra cidade), curso de fotografia da Fabi (finalmente vou sair bem em uma foto. Acho).

Pra quem reclamou de saudade aqui ou em qualquer outro meio, seja inteiro, seja e-mail, fica a promessa de que daqui a pouco eu volto. 

Meu "daqui a pouco" é igual o "logo ali" dos Mineiros. Pode até demorar um tanto. Mas sempre chega.


sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

PONTEARTA.


A cidade que eu escolhi é pequena. Bem pequena. 



Aqui, não tem livraria, não tem cinema, não tem shopping center, não tem danceteria, não tem metrô, não tem restaurante de comida chinesa, japonesa ou alemã, não tem rodoviária, não tem teatro, não tem semáforo, elevador, escada rolante ou linha de ônibus urbano.



Aqui, as pessoas acordam cedo, vão à pé pra quase todo lugar (embora alguns gostem mesmo é de andar de carro, com o som muito, mas muito alto), dão bom dia mesmo p'raqueles que elas não conhecem e sabem o seu nome mesmo que você ainda confunda o delas.



Aqui, algumas pessoas ainda vão à venda de trator, e "estacionam" os cavalos na frente do barzinho, quem sabe aproveitando os ganchos fincados nos meios fios que, afinal, foram colocados ali décadas atrás pra se amarrar as rédeas mesmo.



Quando alguma entidade precisa de dinheiro, faz uma quermesse com leilão de gado e "bingo de frango". Você compra a cartela, baratinho, e na primeira batida ganha um frango assado ainda pelando, que pode comer ali mesmo. É só pedir pra cortarem. Se tiver sorte, também ganha uma garrafa de vinho pra acompanhar.



A cidade que eu escolhi não gosta muito de rock, gosta mais de música caipira ou sertaneja, dependendo da idade de quem tá ouvindo. Felizmente encontrei bons amigos pra compartilhar as minhas paixões musicais, cinematográficas e até literárias. E tem um pessoalzinho jovem que se diverte do mesmo jeito, ouvindo Beatles ou Tião Carreiro. Indispensável mesmo é a cerveja.



Aqui, sua profissão acaba virando sobrenome. É o fulano do Banco do Brasil, ou o sicrano do Posto, ou o beltrano Padeiro. Ou então acabam te conhecendo  por aqueles que te amam. Pode ser o "filho do Toninho pedreiro" ou o "neto do Chiquinho do cascalho", até mesmo o "Alexandre da Fabiana". Pois é. Aqui eu tenho dona, e é melhor não duvidar disso.



Os visitantes mais desavisados às vezes se assustam com os anúncios de falecimento nos auto-falantes da Igreja. Diz uma lenda que há muito tempo, um padre, ao ser expulso, jogou uma maldição na cidade: quando morrer um, mais seis o acompanharão. Sei lá, quase sempre acabo contando, na maioria das vezes parece mesmo verdade. 



Aqui, felizmente, não se morre muito de morte matada. E eu sempre me espanto porque acho grande o número de pessoas que resolvem tirar a própria vida. Só que ninguém pula da ponte que deu o nome antigo à cidade. Que nem era tão alta assim. 



Aqui também se bebe muito. E já começam a ecoar estórias envolvendo uso de drogas mais pesadas. Fato é que há poucos anos ainda largavam as portas das casas abertas e paravam os carros na rua deixando a chave no contato. Hoje, é aconselhável não arriscar. 



Aqui realmente vivemos em sociedade. Pro bem ou pro mal. Não pense você que conseguirá fazer alguma coisa escondido. Qualquer coisa. Sorte sua que não anunciam nos auto-falantes da Igreja. Nem precisam.



Por outro lado, não pense também que vai te faltar uma mão estendida se estiver em dificuldades no meio da rua. Você pode até não conhecer as pessoas direito, mas todos te conhecem. E conhecem o seu endereço e até as suas dificuldades físicas, mesmo que não saibam exatamente do que se trata.



A rádio daqui é comunitária, mas as pessoas gostam mesmo é da rádio da cidade vizinha. Que toca as mesmas músicas que a rádio daqui, ao menos é o que parece pra mim. Mas confesso que quase não ouço rádio. Minha mãe adora. É muito diferente do que ela está acostumada a escutar nas rádios de belzonte.



Dizem que quem chega aqui solteiro acaba ficando enrabichado. Eu fiquei. Deve ser culpa dessa mistura de italianos e gente da terra, que legou um povo tão bonito, homens e mulheres. 



A política local, por aqui, é coisa muito, mas muito pessoal. Sabe quando envolve aquelas brigas entre famílias, de séculos atrás, parecendo estória do Shakespeare? Pois é. Temos também os nossos Montecchios e Capuletos. Mas é melhor não mexer nesse vespeiro.

Dizem que o etê de Varginha resolveu visitar minha cidadezinha primeiro. Mas acabou escolhendo uma cidade maior pra cair com seu disco voador. Que pena. Ele ganhou um sobrenome e nós perdemos uma boa fonte de renda. Mas as estórias permanecem e são divertidíssimas.

Dizem também que aqui tem lobisomem. Em algumas noites de lua cheia eu quase acredito. Dá vontade de uivar, isso é certo. De mula sem cabeça eu não fiquei sabendo. É fato que vez ou outra aparecem umas "mulas descabeçadas", que derrubam árvores sobre os postes da cidade e nos deixam, mais uma vez, às escuras. Como falta luz na minha cidade! Também é certo que já foi pior.

Como gostam de fogos de artifício, os meus concidadãos! Soltam foguetes pra anunciar casamento, noivado, batizado, comunhão, aniversário, quermesse, liquidação de colchões, inauguração de farmácia, saída de romaria, chegada de romaria... acho que soltam foguetes até pra avisar que chegou remessa nova de foguetes na venda.

Há pouco tempo um helicóptero ficou um dia inteiro sobrevoando a cidade. Quem quisesse - ou pudesse- pagar, podia arriscar um vôo panorâmico de 10 minutos. Muita gente foi. Muita gente provavelmente também tentou abater a máquina à estilingadas, coisa mais barulhenta. Eu achei desnecessário. Era um daqueles helicópteros pequenos, cujo modelo é o recordista mundial de acidentes. Ainda bem que não caiu.

Quem nasce aqui vive querendo ir pra cidade grande. Nem precisa ser capital. Varginha, Poços de Caldas ou Juiz de fora já servem, e ganham ares de capital nas postagens do Facebook. Muita gente sai, cansada das mesmas coisas que aqueles, que chegam das cidades maiores, elogiam. A verdade é que, quem sai, uma hora aprende a valorizar.

Aqui não existem pivetes, mendigos e favelas. Existe pobreza, é claro. Mas não se vê miséria. Trânsito? Talvez no domingo, na hora da missa. E só ao redor da praça. 

Quando eu fiquei sabendo o nome da cidade pra qual eu ia me mudar, há 10 anos atrás, provavelmente tive a mesma reação de todas as pessoas de fora: 

- Hein? 

- Monsenhor Paulo. Sul de Minas Gerais. Pertim de Varginha. 

- Hã?

É assim mesmo. Ficamos escondidinhos no mapa. Em alguns mapas, nem aparecemos. Entretanto, se você procurar direitinho, vai poder nos ver pelo Google Earth. Só que ainda não dá pra dar um zoom muito detalhado.

Você pode não ter visto: nossa cidadezinha é "global". Já aparecemos no Fantástico, em uma estranha matéria que envolvia cuecas aparecendo, calças caídas e skatistas. Coisa mais cosmopolita.

Tudo isso numa cidade que ainda tinha ruas calçadas com "pé de moleque". Hoje asfaltaram tudo. Por cima dos pés de moleque. Daqui a pouco eles voltam. Ah é: também já temos pista de skate. E nenhum médico especializado em fraturas. É melhor não cair.

Muitas pessoas na minha situação, doentes crônicos, com dificuldades de locomoção e necessidades as mais diversas às vezes duvidam da minha opção. Olhando de longe, é mesmo temerário viver fora de um grande centro, sem acesso direto aos melhores hospitais e as modernidades que toda cidade maior oferece.

Não discuto com eles. Acho que cada um acaba descobrindo o que é melhor pra si. Algumas pessoas preferem a comodidade dos grandes centros. Eu escolhi ser acordado bem cedo pelo vôo barulhento das maritacas e pelo cancioneiro da passarinhada, pela conversa dos compadres indo pra roça - alguns de trator. Ser acordado pela barulhada das crianças brincando no meio da rua. 

Deixei uma cidade de 4 milhões de habitantes estressados pra me encontrar de verdade em uma cidade de 8.600 almas gentis. 

A cidade que escolhi pra viver o resto dos meus dias.

Minto. Eu não escolhi nada.

Acho que essa cidadezinha é que me escolheu. Sorte a minha.


Fantástico. <---- ("aperta" procê ver).









Já faz algum tempo que estou com esse tema na cabeça. Pode ser por causa das mensagens dos amigos mais antigos, que acabam me fazendo lembrar de uma outra época, de outros lugares, talvez por causa de acontecimentos peculiares do local onde eu vivo, por uma sugestão da Fabi ou até mesmo porque a Etta James morreu hoje e o meu som ficou tocando as músicas dela à exaustão, e, pelo menos pra mim, a At Last tem "cheiro" de casa da gente no final de uma viagem longa.



quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

TROCANDO RECEITAS.




Nenhum gato - ou diabo - foi maltratado na confecção desse texto.


Unha de gato, ferroada de abelha, garra do diabo, sementes de sucupira, leite de coco e arnica à gosto... cozinhar em fogo baixo em uma câmara hiperbárica.

Lendo assim parece aquelas receitas das fórmulas mágicas das bruxas. Vai saber quantos foram queimados na fogueira até que isso se transformasse em sabedoria popular. 

Chega um momento na vida de todo doente crônico em que ele começa a "colocar em cheque" a eficácia da medicina tradicional e passa a experimentar ávidamente todo tipo de receita que aparece pela frente. 

É a hora em que todos nós nos tornamos "especialistas" em alguma coisa que, afinal, conhecemos pouco, mas que nunca hesitamos em indicar, porque nos fez bem. "Se funcionou comigo, VAI funcionar pra você".

Vivemos trocando receitas. Parecemos aquelas comadres cozinheiras, ficamos loucos pro próximo encontro, quando vamos indicar a nossa fórmula secreta do "picadinho gambá" e receber em troca o "kibe de tabuleiro do Tio Walid".

Podem até me criticar, me chamar de cético ou de crítico descrente. Mas falo com conhecimento de causa. 

Já troquei minhas receitas. E experimentei as dos outros, com resultados variando entre o "nada" e o "um pouco melhor".

Já fiquei deitado em uma maca enquanto um malucão escolhia as abelhas mais gordinhas com uma pinça e carcava o bumbum aferroado delas nas minhas costas. Comigo funcionou. Ardeu TANTO que, por uma meia hora eu esqueci a dor nos ossos. Depois eles voltaram a doer.

As ervas então, com aqueles nomes tenebrosos que fariam o Aleister Crowley se orgulhar:

Unha de gato: é uma danada de uma trepadeira que dá simpáticas flores amarelas e possui um pequeno espinho curvo saindo do caule, no formato mesmo das unhas do felino. Mas que geralmente vem em forma de um pó pra chá marrom (e bem amargo) ou em cápsulas. 

Meu pai relatou um resultado super positivo com as cápsulas. Em mim, só aumentou o número de idas ao banheiro, vai ver que, mesmo seguindo a prescrição contida no potinho, eu tomei em excesso.

Muita gente relata um alívio das dores e da rigidez. Não duvido.

Acho que sou voto vencido, mas devemos levar em conta que, se o próprio tratamento alopático funciona de maneira diversa em duas pessoas, o tratamento alternativo não poderia ser diferente.

Em minhas "pesquisas" (acreditem, eu normalmente não saio jogando as palavras aqui sem antes dar ao menos uma "checada") li que ela possui um efeito imunoestimulante e "não devem ser utilizadas com imunossupressores" (um desafio pra quem, como eu, toma toneladas de imunossupressores), pode potencializar a ação anticoagulante ("afina o sangue" - cuidado com os pré-operatórios) e possui um caráter anti-conceptivo. Engravidou, nada de se arranhar com unha de gato!

Garra do Diabo: é uma plantinha rasteira em que floresce uma flor lilás muito bonita. A razão do nome, como deveria de ser, fica lá embaixo da terra: raízes retorcidas e espinhosas, lembram mesmo coisa do Tinhoso. Outros atribuem o nome aos frutos, também espinhosos, que se agarram nos pelos dos animais e na roupa dos incautos. Também é consumida em forma de chá (bem mais comum) e cápsulas.

A exemplo da unha de gato, não funcionou comigo. Pelo menos não me mandou pra casinha. Acho que essas unhas e garras não me arranham. De espinhosa, basta a vida, vai saber.

Meu pai também gostou delas. Acho que ele deve ter sido um pajé ou xamã em alguma encarnação passada, porque além de ter uma inclinação natural pelos medicamentos naturais, eles funcionam muito bem com ele.

Também já li muita gente relatando as benesses do composto. 

O "sinhô google" avisa que o uso em dosagens maiores também pode causar  gastrites, náuseas e diarreias (também chamadas de "exorcismo de cócoras"). Também é contraindicado para grávidas. E pessoas com diabetes. Talvez por ser diabo demais pra uma pessoa só.

Sementes de Sucupira: é uma semente ovalada e fina, pra mim lembra um pouco o caroço da ameixa. Consome-se na forma de infusão (extrato) ou chá. Mas encontrei nos meus passeios pela internet uma versão em cápsulas à venda. 

Algumas pessoas fazem um "vinho com sucupira": colocam as sementes cortadas em pedaços médios dentro de uma garrafa de vinho branco e deixam lá, "curtindo" por 10 dias. Depois consomem em forma de "xarope" (não vá entornando numa taça), três colheres de sopa para meio copo de água.

Meu pai me enviou um pacote. Não utilizei porque achei o chá muito "complicado" de fazer. Coincidentemente, um tio avô da Fabi estava desesperado atrás dessas sementes. Como me agradeceu quando o presenteei com o pacote. Disse que o chá faz milagres pra sua asma. Não duvidei.  

Encontrei um aviso bem sério sobre o seu uso:

Parece que existem muitas espécies de Sucupira, umas bem mais tóxicas que as outras. Por não serem solúveis em água, os compostos tóxicos apresentam pequena concentração quando em uso como chá. Porém, seu uso contínuo pode acarretar uma posterior "toxidade crônica", que vai se "disfarçar" em uma série de problemas de saúde, principalmente nos idosos. 

É o que afirmou em uma entrevista de 21 de outubro do ano passado a Coordenadora de Pesquisa em Produtos Naturais Bioativos da Unicamp, Mary Ann Foglio. Parece que essa semente sequer foi liberada pela Anvisa. Melhor tomar cuidado...

Com toda "receita" é assim. Umas funcionam, outras desandam. Umas dão diarreia, outras emagrecem ou engordam. Tudo isso é natural. 

O que eu não acho natural é a pessoa ficar completamente descrente do tratamento comum, da alopatia, dos cuidados médicos tradicionais. E se fiar completamente nesses tratamentos alternativos. Tratá-los como milagrosos. 
Os mais "xiitas", então, chegam a abandonar qualquer outro tipo de tratamento em prol do que é "natural".

Medicamento fitoterápico também é medicamento, alertam os especialistas. Possuem dosagens, efeitos colaterais e contra indicações. Não deve-se administrar de maneira irresponsável.

Quando eu era adolescente descobri as bandas independentes, o som "alternativo". Entrei de cabeça no pós punk, no industrial, no hardcore ainda em seus primórdios. 

Depois descobri que aquilo tudo era sim, muito bom, mas era apenas uma maneira diferente, complementar, de se fazer o bom e velho rock and roll. 

Acho que isso também funciona no caso das receitas alternativas de medicamento que tanto gostamos de trocar.

Uns as adoram ao ponto do fanatismo, outros nem ligam pra elas. Muitas realmente funcionam, mas nem com todo mundo.

Tudo isso deve ser levado em conta. São importantes, mas jamais devem ser tratadas como atores principais, mas sim como úteis coadjuvantes  no seu  tratamento.




Ah, é!





KIBE ASSADO DE TABULEIRO DA MORGANA


        
        500 g de carne moída
         250 g de trigo pra kibe
         1 cebola grande ralada
        3 dentes de alho picadinhos
         3 galhinhos de hortelã picados
         Sal, orégano e cheiro verde a gosto
         1 colher (sopa) de molho inglês
         2 colheres (sopa) de margarina
         1 tomate sem pele picado
    200 g de mussarela para o recheio

        Modo de Preparo
     Lave o trigo pra kibe e deixe de molho em água por aproximadamente 2 horas.
Escorra bem, apertando pra que saia toda a água.
E Em uma tigela grande, coloque todos os ingredientes, exceto a margarina e o tomate.
   Misture e amasse bem.
     Acrescente a margarina e amasse mais, misturando bem.
     Coloque o tomate e misture.
     Coloque em uma assadeira a metade do kibe.
     Coloque a mussarela.
     Por cima coloque a outra metade cobrindo bem.
    Cubra com papel alumínio e leve ao forno pré aquecido por 55 minutos.
    Retire o papel e deixe mais 5 minutos no forno para dourar.



PICADINHO GAMBÁ

3 colheres (sopa) de óleo (ou azeite).
1, 5 kg de coxão mole ou filé mignon cortado em cubinhos.
1 cebola picada
2 dentes de alho picados
1 folha de louro
Meia xícara (chá) de vinho tinto seco.
1/3 xícara (chá) de rum
1 lata de cerveja preta
1 lata de molho de tomate
1 tablete de caldo de carne esfarelado
sal, orégano e pimenta do reino moída a gosto
1 lata de creme de leite
1 lata de leite (a mesma medida do creme de leite)
2 colheres (sopa) de amido de milho (maizena)
1 copo de requeijão cremoso
1 colher de sopa de margarina
150 g de queijo prato ralado grosso
100 g de queijo parmesão ralado grosso
150 g de queijo cheddar ralado grosso
100 g de batata palha


Modo de Preparo:

Numa panela em fogo médio, coloque 3 colheres (sopa) de óleo ou azeite e doure 1,5 kg de
filé ou coxão mole cortado em cubinhos, 1 cebola picada, 2 dentes de alho picados e 1
folha de louro.

Acrescente meia xícara (chá) de vinho tinto seco, 1/3 de xícara (chá) de rum, 1 lata de
cerveja preta, 1 lata de molho de tomate e 1 tablete de caldo de carne esfarelado.

Cozinhe até a carne ficar macia (+ /- 25 minutos em fogo médio). Tempere com sal, orégano
e pimenta do reino moída a gosto. 

Reserve.

Em uma outra panela - FORA DO FOGO - misture 1 lata de creme de leite (sem o soro), 1 lata
de leite (a mesma medida), 2 colheres (sopa) de amido de milho (maizena - diluir antes em um
pouco de leite), 1 copo de requeijão cremoso, 100 gr de parmesão ralado grosso e sal a
gosto.

Leve essa panela ao fogo médio, mexendo sem parar até engrossar (8 a 10 minutos).

Coloque o picadinho cozido (e reservado acima) num refratário retangular grande. Por cima,
coloque o molho que acabou de preparar. Salpique as 150 gr de queijo prato ralado grosso, as
150 gr de cheddar  e cubra com a batata palha.

Leve ao forno pré aquecido a 200 graus para gratinar por + / - 10 minutos.

Sirva com arroz branco e uma salada.