quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

TROCANDO RECEITAS.




Nenhum gato - ou diabo - foi maltratado na confecção desse texto.


Unha de gato, ferroada de abelha, garra do diabo, sementes de sucupira, leite de coco e arnica à gosto... cozinhar em fogo baixo em uma câmara hiperbárica.

Lendo assim parece aquelas receitas das fórmulas mágicas das bruxas. Vai saber quantos foram queimados na fogueira até que isso se transformasse em sabedoria popular. 

Chega um momento na vida de todo doente crônico em que ele começa a "colocar em cheque" a eficácia da medicina tradicional e passa a experimentar ávidamente todo tipo de receita que aparece pela frente. 

É a hora em que todos nós nos tornamos "especialistas" em alguma coisa que, afinal, conhecemos pouco, mas que nunca hesitamos em indicar, porque nos fez bem. "Se funcionou comigo, VAI funcionar pra você".

Vivemos trocando receitas. Parecemos aquelas comadres cozinheiras, ficamos loucos pro próximo encontro, quando vamos indicar a nossa fórmula secreta do "picadinho gambá" e receber em troca o "kibe de tabuleiro do Tio Walid".

Podem até me criticar, me chamar de cético ou de crítico descrente. Mas falo com conhecimento de causa. 

Já troquei minhas receitas. E experimentei as dos outros, com resultados variando entre o "nada" e o "um pouco melhor".

Já fiquei deitado em uma maca enquanto um malucão escolhia as abelhas mais gordinhas com uma pinça e carcava o bumbum aferroado delas nas minhas costas. Comigo funcionou. Ardeu TANTO que, por uma meia hora eu esqueci a dor nos ossos. Depois eles voltaram a doer.

As ervas então, com aqueles nomes tenebrosos que fariam o Aleister Crowley se orgulhar:

Unha de gato: é uma danada de uma trepadeira que dá simpáticas flores amarelas e possui um pequeno espinho curvo saindo do caule, no formato mesmo das unhas do felino. Mas que geralmente vem em forma de um pó pra chá marrom (e bem amargo) ou em cápsulas. 

Meu pai relatou um resultado super positivo com as cápsulas. Em mim, só aumentou o número de idas ao banheiro, vai ver que, mesmo seguindo a prescrição contida no potinho, eu tomei em excesso.

Muita gente relata um alívio das dores e da rigidez. Não duvido.

Acho que sou voto vencido, mas devemos levar em conta que, se o próprio tratamento alopático funciona de maneira diversa em duas pessoas, o tratamento alternativo não poderia ser diferente.

Em minhas "pesquisas" (acreditem, eu normalmente não saio jogando as palavras aqui sem antes dar ao menos uma "checada") li que ela possui um efeito imunoestimulante e "não devem ser utilizadas com imunossupressores" (um desafio pra quem, como eu, toma toneladas de imunossupressores), pode potencializar a ação anticoagulante ("afina o sangue" - cuidado com os pré-operatórios) e possui um caráter anti-conceptivo. Engravidou, nada de se arranhar com unha de gato!

Garra do Diabo: é uma plantinha rasteira em que floresce uma flor lilás muito bonita. A razão do nome, como deveria de ser, fica lá embaixo da terra: raízes retorcidas e espinhosas, lembram mesmo coisa do Tinhoso. Outros atribuem o nome aos frutos, também espinhosos, que se agarram nos pelos dos animais e na roupa dos incautos. Também é consumida em forma de chá (bem mais comum) e cápsulas.

A exemplo da unha de gato, não funcionou comigo. Pelo menos não me mandou pra casinha. Acho que essas unhas e garras não me arranham. De espinhosa, basta a vida, vai saber.

Meu pai também gostou delas. Acho que ele deve ter sido um pajé ou xamã em alguma encarnação passada, porque além de ter uma inclinação natural pelos medicamentos naturais, eles funcionam muito bem com ele.

Também já li muita gente relatando as benesses do composto. 

O "sinhô google" avisa que o uso em dosagens maiores também pode causar  gastrites, náuseas e diarreias (também chamadas de "exorcismo de cócoras"). Também é contraindicado para grávidas. E pessoas com diabetes. Talvez por ser diabo demais pra uma pessoa só.

Sementes de Sucupira: é uma semente ovalada e fina, pra mim lembra um pouco o caroço da ameixa. Consome-se na forma de infusão (extrato) ou chá. Mas encontrei nos meus passeios pela internet uma versão em cápsulas à venda. 

Algumas pessoas fazem um "vinho com sucupira": colocam as sementes cortadas em pedaços médios dentro de uma garrafa de vinho branco e deixam lá, "curtindo" por 10 dias. Depois consomem em forma de "xarope" (não vá entornando numa taça), três colheres de sopa para meio copo de água.

Meu pai me enviou um pacote. Não utilizei porque achei o chá muito "complicado" de fazer. Coincidentemente, um tio avô da Fabi estava desesperado atrás dessas sementes. Como me agradeceu quando o presenteei com o pacote. Disse que o chá faz milagres pra sua asma. Não duvidei.  

Encontrei um aviso bem sério sobre o seu uso:

Parece que existem muitas espécies de Sucupira, umas bem mais tóxicas que as outras. Por não serem solúveis em água, os compostos tóxicos apresentam pequena concentração quando em uso como chá. Porém, seu uso contínuo pode acarretar uma posterior "toxidade crônica", que vai se "disfarçar" em uma série de problemas de saúde, principalmente nos idosos. 

É o que afirmou em uma entrevista de 21 de outubro do ano passado a Coordenadora de Pesquisa em Produtos Naturais Bioativos da Unicamp, Mary Ann Foglio. Parece que essa semente sequer foi liberada pela Anvisa. Melhor tomar cuidado...

Com toda "receita" é assim. Umas funcionam, outras desandam. Umas dão diarreia, outras emagrecem ou engordam. Tudo isso é natural. 

O que eu não acho natural é a pessoa ficar completamente descrente do tratamento comum, da alopatia, dos cuidados médicos tradicionais. E se fiar completamente nesses tratamentos alternativos. Tratá-los como milagrosos. 
Os mais "xiitas", então, chegam a abandonar qualquer outro tipo de tratamento em prol do que é "natural".

Medicamento fitoterápico também é medicamento, alertam os especialistas. Possuem dosagens, efeitos colaterais e contra indicações. Não deve-se administrar de maneira irresponsável.

Quando eu era adolescente descobri as bandas independentes, o som "alternativo". Entrei de cabeça no pós punk, no industrial, no hardcore ainda em seus primórdios. 

Depois descobri que aquilo tudo era sim, muito bom, mas era apenas uma maneira diferente, complementar, de se fazer o bom e velho rock and roll. 

Acho que isso também funciona no caso das receitas alternativas de medicamento que tanto gostamos de trocar.

Uns as adoram ao ponto do fanatismo, outros nem ligam pra elas. Muitas realmente funcionam, mas nem com todo mundo.

Tudo isso deve ser levado em conta. São importantes, mas jamais devem ser tratadas como atores principais, mas sim como úteis coadjuvantes  no seu  tratamento.




Ah, é!





KIBE ASSADO DE TABULEIRO DA MORGANA


        
        500 g de carne moída
         250 g de trigo pra kibe
         1 cebola grande ralada
        3 dentes de alho picadinhos
         3 galhinhos de hortelã picados
         Sal, orégano e cheiro verde a gosto
         1 colher (sopa) de molho inglês
         2 colheres (sopa) de margarina
         1 tomate sem pele picado
    200 g de mussarela para o recheio

        Modo de Preparo
     Lave o trigo pra kibe e deixe de molho em água por aproximadamente 2 horas.
Escorra bem, apertando pra que saia toda a água.
E Em uma tigela grande, coloque todos os ingredientes, exceto a margarina e o tomate.
   Misture e amasse bem.
     Acrescente a margarina e amasse mais, misturando bem.
     Coloque o tomate e misture.
     Coloque em uma assadeira a metade do kibe.
     Coloque a mussarela.
     Por cima coloque a outra metade cobrindo bem.
    Cubra com papel alumínio e leve ao forno pré aquecido por 55 minutos.
    Retire o papel e deixe mais 5 minutos no forno para dourar.



PICADINHO GAMBÁ

3 colheres (sopa) de óleo (ou azeite).
1, 5 kg de coxão mole ou filé mignon cortado em cubinhos.
1 cebola picada
2 dentes de alho picados
1 folha de louro
Meia xícara (chá) de vinho tinto seco.
1/3 xícara (chá) de rum
1 lata de cerveja preta
1 lata de molho de tomate
1 tablete de caldo de carne esfarelado
sal, orégano e pimenta do reino moída a gosto
1 lata de creme de leite
1 lata de leite (a mesma medida do creme de leite)
2 colheres (sopa) de amido de milho (maizena)
1 copo de requeijão cremoso
1 colher de sopa de margarina
150 g de queijo prato ralado grosso
100 g de queijo parmesão ralado grosso
150 g de queijo cheddar ralado grosso
100 g de batata palha


Modo de Preparo:

Numa panela em fogo médio, coloque 3 colheres (sopa) de óleo ou azeite e doure 1,5 kg de
filé ou coxão mole cortado em cubinhos, 1 cebola picada, 2 dentes de alho picados e 1
folha de louro.

Acrescente meia xícara (chá) de vinho tinto seco, 1/3 de xícara (chá) de rum, 1 lata de
cerveja preta, 1 lata de molho de tomate e 1 tablete de caldo de carne esfarelado.

Cozinhe até a carne ficar macia (+ /- 25 minutos em fogo médio). Tempere com sal, orégano
e pimenta do reino moída a gosto. 

Reserve.

Em uma outra panela - FORA DO FOGO - misture 1 lata de creme de leite (sem o soro), 1 lata
de leite (a mesma medida), 2 colheres (sopa) de amido de milho (maizena - diluir antes em um
pouco de leite), 1 copo de requeijão cremoso, 100 gr de parmesão ralado grosso e sal a
gosto.

Leve essa panela ao fogo médio, mexendo sem parar até engrossar (8 a 10 minutos).

Coloque o picadinho cozido (e reservado acima) num refratário retangular grande. Por cima,
coloque o molho que acabou de preparar. Salpique as 150 gr de queijo prato ralado grosso, as
150 gr de cheddar  e cubra com a batata palha.

Leve ao forno pré aquecido a 200 graus para gratinar por + / - 10 minutos.

Sirva com arroz branco e uma salada.
















 


17 comentários:

  1. Mônica Gonçalves Lantelme18 de janeiro de 2012 às 11:36

    Xandão, comentei no face sobre o óleo de coco: se ele emagrece, eu quero! Eu concordo com o seu ponto de vista e acho que tb sou um pouco cética em relação a "receitas alternativas". Comigo nunca funcionou e acho que tem que ter um certo "desta vez vai!!!" que eu admiro nas pessoas. Parabéns e continue nos presenteando com os seus textos!!!

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    1. Pois é. Mas lembre-se que também lemos as pessoas testemunhando que tiveram diarreia com o uso do tal óleo. Emagrecer assim, me esvaindo no vaso sanitário, eu não quero não!
      Somos parecidos mesmo, Mônica. Antes eu arriscava mais, talvez fruto de uma compreensão menor do meu problema. Hoje eu arrisco muito menos.

      Obrigado por me presentear com a sua presença, suas sugestões e seus comentários .

      Beijão.

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  2. Mônica Gonçalves Lantelme18 de janeiro de 2012 às 12:13

    Valeu, Xandão! Beijo.

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  3. Muito bom seu blog,Xandão!
    Parabéns!
    Confesso que pouco sabia sobre EA ,através dos seus relatos de experiências ,pude conhecer e me aprofundar melhor.
    O tom de humor é 10 kkkkk dei boas gargalhadas também!
    E ainda tem receita!

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    1. Muito obrigado.
      Mas as receitas são sérias. Pode confiar.

      Abração.

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  4. Meus pais têm muita fé nesses "remédios de horta".Tem um monte deles aqui em casa.Vira e mexe meu pai faz um chazinho de rebenta-pedra ou guaco.Já a minha mãe gosta mais de hortelã ou erva-cidreira.A fé deles é tão grande que acaba funcionando.Pra mim às vezes funciona, outras não.Acho que preciso aumentar a minha fé.

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    1. Oi, Dora!
      eu acho que esses "remédios de horta" que tomamos para resolver os pequenos mal estares do dia a dia, são mesmo muito úteis e eficazes. Mas mesmo eles podem possuir efeitos colaterais ou interações que nós nem imaginamos.
      A coisa fica FEIA mesmo quando a figura resolve tratar, por exemplo, um câncer apenas com uma planta, ou vacina, ou garrafada milagrosa.
      Interrompe o "chato, caro, doloroso e incômodo" tratamento tradicional. Na maior parte das vezes, quando se dá conta do que fez, já é tarde demais.

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  5. Quimica é uma palavra grega que significa matéria. Portanto quimica é o estudo da matéria. As plantas são feita de substancias químicas, com reações complexas. Chazinho da vovó, kkk! Não tem nada de inocência nessa história. Precisa mesmo muita cautela e acompanhamento médico para plantinhas tão inocentes. Agora, falando nisso, eu não fico sem meu óleo de copaíba sempre que estou gripada com tosse, 2 gotinhas por dia. Uma beleza! Xandão, amo tudo que você escreve, parabéns!

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  6. O lance das receitas me fez lembrar um livro que li não faz tanto tempo, depois vou lembrar o nome e te passar no Face, acho que não deve ter lido e vai gostar. Abraço.

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  7. Ah, minha mulher lembrou o título: Nem só de Caviar Vive o Homem. Não sei se existe edição atual a que eu li foi comprada em sebo e acho que era dos anos 70, quando o livro fez sucesso. Vai gostar. Abraço.

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    1. Já li esse livro, Paulo! Johannes Mario Simmel!
      Acho que eu tinha uns 19 anos...
      Na verdade, a segunda guerra mundial é uma das minhas paixões, acho que poucos livros (ou filmes) ambientados nessa época escaparam da minha curiosidade.

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  8. meu caro, tudo bem? quanto tempo...
    o betão, meu irmão, comentou sobre seus textos passei para dar uma olhada. são realmente muito bons, como gostamos, humor e informação, resumindo, diversão.
    parabéns pelos escritos e analgésico para você!!!hahaha
    um abraço,
    rodrigo tross, vulgo, digão.

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    1. Ei, Digão!
      o Betão me contou de você faz algum tempo.
      Que legal que tenha gostado das minhas mal traçadas (mas exaustivamente pensadas) linhas...

      Receber elogio da galera "das antigas" é bom demais.

      abração.

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  9. Tem coisa melhor do que começar o dia lendo um texto seu?
    Estou amando o Blog!
    Beijos

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    1. Inúmeras, Marcela!
      Mesmo assim agradeço de coração o elogio exagerado.

      Beijão.

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  10. Minha mãe sempre tem alguma indicação de medicamentos naturais. É só sentir alguma dorzinha que lá vem ela com as "receitas", engraçado que com ela também sempre funciona, sente uma melhora aqui outra mudança dali, comigo às vezes funciona... a última foi um suco de melissa para acalmar antes do exame da auto escola, é até gostoso mas tomei muito e misturei com suco de maracujá que não deu muito certo. Resultado: pressão baixa! hahaha
    Ha,sobre as sementes de sucupira ela fala bastante também, lá em casa tem algumas dentro do vinho e ela sempre está a procura de mais, acho que conseguiu fazer meu irmão tomar para melhorar a garganta! hehe
    Adoro os textos... Abraços!

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