terça-feira, 3 de janeiro de 2012

MEDICAMENTOS.




Concordo. O trocadilho é fraco. Mas não deixa de fazer sentido quando olhamos de perto a relação entre nós - doentes crônicos - e as drogas. Medicamentos... 

Principalmente analgésicos e antinflamatórios (mas não é por isso que você vai deixar de ler esse Blog, né).

Não deixa de ser irônico o fato de que às vezes "gritamos" de dor, seja virtualmente, seja pessoalmente, mas, outras vezes, lá no fundo, sentimos uma espécie de vaidade estranha e competitiva, do tipo: "minha dor é a mais insuportável" ou "nenhum remédio segura essa dor". Mas isso é assunto pra uma outra postagem.

O importante aqui é salientar o que todo mundo sabe mas disfarça: consumimos remédios como se fossem balas! Bem lá no fundo nos imaginamos como crianças, chegando ávidos no balcão da farmácia e dizendo: "moço, embala meio quilo de Tylex aí. Pode dar um Tylenol de troco, sem problemas".

Somos junkies, involuntários ou não, e o Burroughs não escreveu sobre nós. O pior tipo é o
 daquele "maluco", que nem percebe a hipocrisia em criticar os " hippies maconheiros sujos", enquanto engole mais um comprimido de metadona pra poder "dormir direito".



A verdade é que ficamos loucos pra conhecer a nova "droga" do pedaço. Discutimos nos fóruns virtuais, indicamos para os amigos mais chegados. Pertencemos a uma "ordem secreta", à "elite" dos drogados legais. Deviam nos dar carteiras oficiais, se quer mesmo saber.



Não estou menosprezando a dor ou o sofrimento de ninguém, nem assentando em cima do meu rabo pra falar do dos outros. Vejam bem, eu também compartilho isso tudo. Quando a espondilite se manifestou em minha vida, antes do diagnóstico, cheguei a tomar 10, 12 comprimidos de dorflex de uma vez. Eu lá, trocando as pernas de tão tonto pelos medicamentos, e a dor não passava! A Citoneurin, tão vermelhinha, quase tinha cheirim de cereja dentro da seringa, xarope docinho descendo pelas minhas veias... e não servia pra nada além de levar meu fígado ao limite.


Felizmente, seis meses depois, diagnosticaram o meu problema. E haja indometacina! Comecei com dois comprimidos de 25mg, dois anos depois, quando parei, já tomava 6 de 50mg... diários! Substituída pela bendita cortizona, 80 mg de deflazacort por dia e eu, enfim, após quase 3 anos, não senti dor. Como chorei naquele dia. De alegria. 


Afinal, não estou aqui endemoniando os remédios, sim o uso que NÓS, irresponsavelmente, fazemos deles.

Nisso já são 12 anos utilizando ininterruptamente o corticóide. Toda vez que tento diminuir, meu corpo se joga no chão, chora berrado, inflama, faz birra de criança pequena que perdeu o brinquedo favorito. Atualmente estou em 5 gramas diárias da predinosolona, e logo me livro disso. Assim espero.

A cortizona é um troço engraçado. Parece a kriptonita azul dos quadrinhos do super homem: ninguém imagina qual vai ser o efeito na pessoa. Uns incham como a Dona Redonda da novela Saramandaia (ao google, seus desmemoriados!) - aliás, bela desculpa pra quem está com sobrepeso: "é a cortizona", dizem, com a boca manchada de chocolate e o ponteiro da balança girando como um ventilador. Outros ficam tontos como um cachaceiro. Outros se enchem de espinhas como um adolescente que descobriu um quarto cheio de doces e revistas pornográficas.

A sorte é que muitos de nós, aparentemente, nascem adaptados. Meu fígado, coitado, apesar de tão maltratado, está sempre OK, e não foi por isso que tomei a decisão de parar de beber.

Mas muitos outros não percebem que, na ânsia de não sentir dor, de não sentir desconforto, de não sentir nada, às vezes estão se matando aos poucos com a automedicação.

Sem falar naqueles "hipocondríacos profissionais", que devoram bulas antes mesmo de tomar o medicamento, na esperança de desenvolver mais um efeito colateral do qual possam reclamar na próxima reunião de família, ou na próxima ida ao salão de beleza.

Isso é assunto pra 10 posts como esse, cada um tem uma estória, provavelmente vou conhecer muitas mais e retomar o assunto. Cada pessoa tem sua caminhada, sua experiência, seu enfoque, suas justificativas.

Porém, uma coisa é certa: se você se automedica, o final dessa estória é sempre o mesmo. E nunca é feliz.

2 comentários:

  1. Marcela Magaraia Zanin6 de janeiro de 2012 às 20:07

    Esse texto é bem forte... dá muito em que pensar e refletir!
    Parabéns!

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  2. É verdade!!! rs, quando estamos na "Sala da Justiça", falamos dos MEDICAmentos* como quem fala de um super herói ou de um arqui-inimigo.

    Quanto à automedicação, ótimo tema, Xandão! Você mandou bem o recado! essa coisa de auto medicação é muito séria - e não só para nós espondilíacos - é perigoso no geral!

    Eu, morro de medo de medicação, já tive coisa séria demais, que foi resolvida a tempo, exatamente por eu não usar nenhum medicamento sem prescrição.

    Adorei o trocadilho do Mentos! eu nunquinha ia ter essa criatividade toda: MEDICAmentos*, rs!!

    Valeu, Xandão! até a próxima!

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