BICHO PREGUIÇA.

Agora que já "domino" este blog a ponto de ler as mensagens que me mandam (aliás, também aprendi a mudar as cores dele. O que acharam desse laranja Cebion?), me deparei com o comentário de um grande amigo e colega de superações: o Luciano Sabino. E resolvi falar sobre o "delicado" assunto do preconceito. Só não garanto que vou conseguir rir disso.

Começando pelo título. Quem não é do "métier" talvez não saiba, mas essas doenças autoimunes, em sua fase inflamatória, dão um cansaço imenso e inexplicável. 

Às vezes já acordo com sono. É como se o corpo pesasse duas toneladas (dispenso comparações paquidérmicas engraçadinhas), a gente só fica querendo dormir, em um desânimo total, pior que Baiano na manhã seguinte ao vigésimo sétimo dia do Carnaval. Aí você segue o ritmo do seu corpo (provavelmente uma marcha fúnebre das mais desanimadas, em baixa rotação) e começa a ouvir comentários do tipo: "ô homem mole, sô". "Acorda rapaz, faz logo o que eu te pedi!".

Outras vezes você até está disposto, mas a dor não te deixa fazer nada. No meu caso é dor e rigidez. Você se segura pra não berrar, faz cara de machão ou então faz uma piada besta qualquer, rezando pro analgésico fazer logo efeito e te deixar ao menos trocar de roupa ou assentar no vaso sanitário. Não é o meu caso, mas conheço muita gente que, nessa hora, escuta absurdos - geralmente vindo de pessoas com quem convive de perto - "você tá inventando essa dor". "deixa de ser fresco, isso aí nem deve ser ruim desse jeito". A vontade que dá é  a de "inventar" um taco de baseball, quiçá ter o superpoder de materializar umas 3 hemorróidas no fiofó do sacana.


Imaginem, então, aquelas pessoas cujas características de sua doença não são tão "visíveis"!

Não estou afirmando que inexistem aqueles que fingem: tem maluco de todo gênero, gente que finge ter uma doença ou frequenta grupos de discussão ou apoio aos mais diversos problemas e doenças. Ou você acha que o David Fincher concebeu aquelas estórias todas no "Clube da Luta" por simples inspiração divina? Já acompanhei muita gente "vampirizar" a solidariedade alheia fingindo alguma tragédia física ou emocional!

Mas eu estou tratando aqui de gente normal. Ou quase, já que eu sou um pouco doido por escrever essas coisas, e vocês, mais doidos ainda por lerem.

Você passa por tudo isso geralmente numa boa... chateia, é certo, mas você imagina uma perna quebrada aqui, um piano caindo dos céus acolá, um singelo atropelamento por trem de carga ou um enfarto, talvez?... e acaba superando. Ou então, faz como eu e simplesmente manda à merda.

A situação que nos tira mais do sério só aparece depois da aposentadoria por invalidez. Você sofre, luta, esbraveja por anos, reúne provas, convence com muita dificuldade os peritos de que a coisa realmente ficou séria. Pra imediatamente se transformar em um vagabundo aos olhos dos outros.

" -Quem é ele?

- É o Xandão.

- O que ele tem?

- Uma doença séria, está aposentado por invalidez.

- Tá. Mas o que ele faz? Ele não faz nada? Não trabalha?"

A Fabi vive me contando esses diálogos. Obviamente entremeados por uma série de "elogios" ao "curioso".

A aposentadoria é a hora em que tudo se acentua. Aquela pessoa que antes te acusava de corpo mole ou fingimento, agora fica à espreita. Você acorda se sentindo um pouco melhor, se espreguiça na rua e vai caminhar de manhã cedo e, de trás daquela moita insuspeita, pula o "FVA" (Fiscal da Vida Alheia) com aquele dedo acusador: "arrá, te peguei" Tá fingindo"! 

Se você está em crise, provavelmente está fingindo. Se você se sente melhor, COM CERTEZA estava fingindo. Fogo ou frigideira? 

Quanta gente boa se deprime de verdade por causa disso! 

Quanta gente não trocaria dois ou três anos de aposentadoria por uma semana a mais podendo correr, quem sabe por mais uma cambalhota bem dada. Ontem um (novo) amigo - o Paulo - escreveu algo que me comoveu: o que ele sonha mesmo é conseguir pegar sua filhinha com 9 meses de idade e nome de flor no colo por mais tempo. 

Poucos desses críticos conhecem a "delícia" de se fazer - às vezes constantemente - exames como a colonoscopia, a punção de medula, a ressonância magnética. Viver com medo do seu fígado ou dos seus rins entrarem em PANE. Ou imaginar que aquele remédio que está te deixando tão bem é o mesmo que te lega uma porção de novos problemas. Afinal, quem quer viver doente?

Você às vezes me vê tocando por três, quatro horas em um barzinho, ou na frente da minha banda de rock. E nem percebe que isso pra mim é remédio. É o que me faz sentir útil e produtivo. O que você não sabe e nem vê é que às vezes aquelas 4 horas de show me custam 3 dias de cama. Três dias que eu passo com um sorrisão, na maior adrenalina.

Confesso a vocês: nós só não pulamos no pescoço desses engraçadinhos preconceituosos porque somos mesmo muito civilizados. Ou, então, simplesmente porque às vezes pular dói, de verdade. 

A lição, crianças, é essa: procure fazer o que ama. Procure estar com quem te ama. Procure criar um "ouvido seletivo", deixe o invejoso e o mal amado esbravejando, bem no fundo ele está descontente com o que faz e SONHA estar no seu lugar, por simples ignorância do que é "calçar os nossos sapatos".

E, vejam bem... eu não sou um vagabundo. Agora eu sou um "escritor".


Igualzim o Paulo Coelho.  HAHAHAHAHA