sexta-feira, 5 de setembro de 2014

"SEMI-ÓTICA"


"Loris" Ipsum catarático (não confundir com catártico).

E não é que o ANTINFLAMATÓRIO ficou abandonado por quase dois anos! 

Vocês podem até achar que de lá pra cá minha vida ficou desinteressante (e ela já foi interessante?), ou que tenha havido  algum bloqueio criativo, ou que eu tenha sofrido uma nova crise incapacitante derivada da Espondilite Anquilosante (E.A para os do "metiê")... nada disso. Faltou apenas vontade, reconheço. Sou um pai muito desnaturado. Não sei bem o que acontece, acho que eu só funciono mesmo no tranco. E só escrevo mesmo se estou a fim...

Isso posto e "assuntado" (como dizem aqui na roça), o fato é que agora me deu vontade de retirar o blog das "catacumbas". Se o que vai sair daqui vai ser bom ou ruim, depois vocês me contam.

O "bichim" simpático ali em cima, mostrando a língua, é um Lóris. Um primo "zoiudo" e noturno dos lêmures. E não é por acaso que a foto dele (acho que não é um selfie, a não ser que o danado consiga segurar a câmera com a cauda) tá embelezando esse texto. Afinal, hoje quero falar dos olhos, meus e dos outros.

No primeiro dia desse ano, logo pela manhã, curtindo a piscina de um hotel muito bacana em Fama (pertim de Alfenas, na beira da represa de Furnas) onde tocamos com a banda na festa de ano novo mais Blues da região, comecei a notar uns fenômenos esquisitos. Parecia que minha vista tinha ficado meio embaçada, e pra onde eu olhasse era como se uma "revoada" de pontos pretos cruzasse a minha visão. Deve ser o sol e o cloro, pensei...

Na semana seguinte, meu olho direito começou a inflamar, ficar bem vermelho, arder... e o embaçamento continuava. Marquei a consulta com oftalmologista, aquele mesmo que já havia tratado de dois episódios "brabeira" de uveíte. Medão de ser isso, mas a dor e a vermelhidão eram bem diferentes. Também não rolava a fotofobia. Enfim - e isso serve pra quem é doente crônico e pra quem não é - já que tava rolando algo estranho a algum tempo, o melhor é não perder mais tempo e olhar logo o que se trata.

Consulta realizada, afastada a possibilidade de uveíte, afastada a (minha) suspeita de retorno da miopia (que o último episódio de uveíte havia corrigido, como já contei em algum texto por aqui), ficou a notícia de que eu estava com catarata no olho esquerdo (e não no direito, que ardia!). No MEIO do olho. Madurinha pra operar. Um olho só. Metade da minha visão. Semi-ótica.

Catarata Cortisônica. Mais um daqueles problemas advindos da solução. Tanto tempo usando cortisona, não poderia passar batido mesmo! Analisando a bula friamente, nem foi das piores consequências!

Podia, sei lá, ser o Zoloft, que indicam pra depressão e não raro faz o pobre usuário ter ereções que duram uma 3 horas, com incapacidade de ejaculação e orgasmo! (é o que chamam de "falência ejaculatória"). Não é à toa que o segunda pior efeito colateral do troço seja a compulsão suicida (ok, um remédio pra depressão que pode induzir ao suicídio, não é um MILAGRE da farmacopéia moderna?!).

O "lado bom" é que eu já sabia haver um convênio de cirurgias de catarata através da prefeitura da minha cidade. O lado ruim é que, desde que a Fabiana, em um ato de completa insanidade inconsequente, me convidou pra assistir o vídeo da cirurgia de correção de miopia que ela fez - convite que eu, inocente, aceitei - eu me BORRAVA de medo de operar os olhos.

(não sei se vocês já viram, só sei que tem um momento em que uma espécie de "guilhotina - assim me pareceu - DECEPA a parte de cima do olho e abre aquilo tudo e... vou parar porque já me deu tonteira... eu devia era ter pedido pra filmarem a minha colonoscopia, isso sim seria uma "vingança" à altura!).

A burocracia em nosso país sendo o que é (inclusive já foi objeto de outro texto meu por aqui), ainda mais na área da saúde, acabei realizando a cirurgia há cerca de uma semana.

A isso, soma-se o fato de que minha médica me orientou a não aplicar o medicamento um mês antes da cirurgia e só retornar um mês após a cirurgia. Afinal, trata-se de um imunossupressor, e ninguém quer ficar sem imunidade enquanto uma guilhotina decepa parte de seu olho.

Como os adiamentos da data eram constantes, incertos e não sabidos, nessa de "vai ser na próxima semana" acabei ficando 4 meses sem o medicamento. Meu segundo recorde desde aquele episódio da tetraplegia de dois anos atrás. Só posso dizer que, apesar de sofrer algumas pequenas crises de dor e rigidez, até que me saí bem! Mas definitivamente não posso ficar sem ele... estou louco pra esse mês passar logo e me permitir retornar às minhas injeções.

Até que, um belo dia, a coisa se concretizou, e acabou se realizando, hoje faz uma semana. É claro que, sendo comigo, a coisa não poderia ser lá muito normal. A começar pelo tipo da catarata, que automaticamente me fazia ser um dos mais "novos" entre os operados no mutirão, e um dos mais "cegos", já que, por ser medicamentosa, a coisa surgiu "no meio da vista" e não foi "amadurecendo" como é mais normal acontecer.

E o mais divertido era exatamente observar os meus "colegas". Acompanhado de minha sogra, que também faria a cirurgia. Enquanto eu tremia de medo, lá estavam eles, assuntando, dando risada, colocando o papo em dia, em sua maioria "veteranos" da cirurgia em um dos olhos, a grande parte deles "abençoados" por ignorar completamente os detalhes do que iria acontecer muito em breve. 


Tão tranquilos, tão animados, tão alegres com a expectativa de voltar a enxergar melhor, tão brincalhões a respeito do "temido" (que na verdade vem se revelando ser mega entediante, apesar de cercado de cuidados) pós-operatório que acabaram me contagiando.

E a fila andando, todo mundo em jejum (até de água) desde a noite anterior, por volta das 9:30 os primeiros da fila começaram a sair da sala de cirurgia, um bando de velhinhos alegres em seus óculos escuros enormes e coloridos. Até que por volta das 11:30 chegou a minha vez (12º da fila, o primeiro estava lá desde às 4:30 da manhã, segurando o lugar numa ansiedade inexplicável).

O que posso dizer? Medão, danado, é claro. E nem ver o cirurgião, todo paramentado e usando uma bandana da Harley Davidson (juro! um dos meus!) me acalmou.

Só digo que não vi quase nada. Não fosse a minha mente fértil, nem saberia o que acontecia comigo. 
Mas intuí muito: sei que rolou a tal guilhotina. Sei que usaram água ao invés de laser. Gelada! E que o que eu achava ser uns "empurrões" no meu globo ocular provavelmente não eram bem isso... Sei que o corte foi colado e não costurado (pois a tal cola acabou bem na minha vez e tivemos que aguardar uns minutos até chegar um bocadim). No mais, era uma luz bem forte, um brilho azul (que ficava cor de rosa quando rolavam os tais "empurrões") e o que me parecia ser bolhas d'água, mais o barulho dos aparelhos todos, depois alguma coisa empurrando um troço pra dentro do meu olho (a lente!), "acertando o foco",  tudo aquilo lembrando muito aquelas experiências extraterrestres dos filmes B. 

Pois é. Pra quem acredita naquela letra em que eu fui abduzido, aparentemente aconteceu de novo. Saí da sala de cirurgia cerca de 20 minutos depois, empolgadíssimo!

Vou parar por aqui.

Porque eu estou ofuscado. Porque ainda não peguei aquele ritmo pra escrever, apesar de estar gostando bastante dessa retomada, oxalá o tesão persista. E porque o dotô mandou ficar só algumas horas na net, nessa fase de recuperação.

Espero que eu tenha matado a curiosidade desse povão todo (beirando umas 5 pessoas) que veio me perguntar "online" como é que foi. Como diria o Chicó: "num sei, só sei que foi assim". (será que eu aumentei tanto o causo?).

Agradeço de coração as mensagens de força e apoio quando eu (bem ao meu estilo) alardeei que ia fazer a cirurgia. Tem gente que tem medo de falar sobre essas coisas de saúde, medo do "olho gordo" (ou outra magia qualquer). Eu recebi foi carinho, positividade e força.

Tenho certeza de que, se rolou a tal gordura ocular, foi devidamente lipoaspirada pelas máquinas tão alienígenas daquele médico motociclista de sobrenome curiosamente parecido com o nome do nosso país.

Até a próxima (postagem, não cirurgia. E que não seja daqui a dois anos!).