A cidade que me escolheu continua pequena. Bem pequena.
Mas fisicamente tá crescendo! Nos últimos 10 anos surgiram novos bairros,
salpicados de casinhas e – dependendo do lugar – casonas também. O que faz a gente se perguntar: como é que pros meus olhos a cidade aumentou tanto mas no
meu coração parece que são as mesmas pessoas morando aqui?
Na verdade, nossa população permanente ficou praticamente a mesma, vez que a
população flutuante (veja bem, tive que pesquisar esses termos) é grande. E na
verdade, o que acontecia então, ainda acontece: os jovens partem pra fazer
faculdade, estudar fora, e acabam se empregando e construindo uma vida em outras
cidades, mesmo outros Estados, muitas vezes retornando bem mais tarde. Juntando
tudo, o último Censo (2022) disse que hoje somos 8340 paulenses.
No primeiro texto eu citava uma porção de coisas que não tinha por aqui: Livraria,
Cinema, Shopping Center, Danceteria, Metrô, Restaurante de comida Chinesa,
Japonesa ou Alemã, teatro, rodoviária, escada rolante... mas tenho orgulho em
anunciar que agora temos:
1)
Um semáforo!
Sim! Na verdade, são 3, todos em um mesmo cruzamento complicado onde 3 vias de
mão dupla se encontram e vocês podem imaginar a confusão que era. E são
daqueles semáforos modernos, cheios de prosopopeia, com contador de tempo e tudo o mais, o que só
faz deixar a gente mais ansioso, será que vai dar tempo pra passar? Geralmente dá. Também rende muita reclamação, todo mundo se
queixa de ficar parado por “tempo demais”, vocês podem imaginar
a confusão que virou!
2) Ônibus Urbano - Exatamente! Agora temos um circular, que, com hora marcada, percorre a cidade, centro e bairros, e sou obrigado a confessar que nunca andei nele, mas morro de vontade. Quem subiu nele uma vez foi a Cacau, meu pastor alemão, que um dia encontrou a porta aberta e invadiu o ônibus, assentando-se no primeiro banco. Só faltou latir: “acelera esse busão seu motorista!”.
O Circular tem um ponto Central, quase uma mini-rodoviária, parada
obrigatória durante o passeio com as cachorras, que adoram visitar a atendente e
o motorista, super simpáticos e queridos. Abanação de rabo garantida.
O que agora nos leva a um lamento: ainda não temos rodoviária, e há dois anos, no pós pandemia - não sem muita
briga por parte da prefeita - perdemos a linha de ônibus interurbano.
A empresa
disse que “ a linha tornou-se deficitária, que o numero de passageiros não
sustentava os custos” e desde então aqui só se chega ou sai em carro próprio,
de carona ou de taxi mesmo. Que aperto me deu no coração, eu simplesmente ADORAVA
pegar a linha pela estrada de terra, olhar as montanhas, sítios e fazendas no
caminho entre Varginha e Monsenhor Paulo. Cheiros e imagens ainda enfeitam a
minha imaginação sempre que lembro, desde a primeira vez que vim pra cá de
ônibus, em 2001.
De toda forma, na cidade a maioria das pessoas continua indo pra todo
lado à pé, embora o número de carros tenha aumentado, e hoje os motoristas possam
até mesmo sentir um “gostinho” de cidade grande e pegar um “micro-engarrafamento”
depois da Missa. Um Luxo!
As quermesses, tão típicas, se atualizaram, ganharam ares de
feira moderna na nossa praça revitalizada (outra contradição, tiraram tantas
árvores de lá, como assim “revitalizou”?) e assumo que ficou muito bonita e
prática, com os novos estacionamentos em ângulo, mas eu tenho outra birra
porque não fizeram um coreto. Puxa, em cidade do interior de MG é obrigatório
ter um coreto na praça da Matriz, é uma regra tácita, né?
A verdade é que vale
a pena visitar e conhecer, e os novos espaços estão sendo super aproveitados
com a feirinha de domingo e os eventos – como a Festa das Nações, que acontece
todo ano numa praça mega iluminada, cada barraquinha representando uma entidade
(Vila Vicentina, Apae, Creches, Corporação Musical, Hospital...) e um país, com
comidas típicas e tudo. Lembra quando eu falei que não tinha restaurante de
comida de outro país? Pois é. Mentira. Em dezembro tem e vale a visita. Felizmente, pra quem tem saudades dos “bingos
de frango”, a Festa da Vila continua acontecendo em Junho, a tradição segue firme!
E eu continuo sem sorte, não ganhei nada!
A cidade que me escolheu continua não gostando muito de
rock, embora cada vez menos se ouça Tião Carreiro e cada vez mais escutemos uma
mistura amalucada de funk com sertanejo, muito batido pra pouca mensagem, tudo
muito frenético, bem sintonizado com o que se ouve Brasil afora. Meus ouvidos de velho chato doem, mas fazer o
que? Os bons amigos continuam se reunindo aqui em casa, ao redor do toca discos.
E é obrigatório ouvir tudo sem pular música, ora bolas, Vitrola não é Spotify.
Profissões ainda ganham ares de sobrenome, e ainda
encontramos o “fulano da padaria”, o sicrano da borracharia, o Tião Pedreiro ou
o João do “banco do Bradesco” ( algumas pessoas falam assim mesmo, e eu adoro).
Já eu, continuo tendo a mesma dona, ainda sou o “Alexandre da Fabiana, é claro,
embora “Xandão da banda” tenha ocupado um segundo lugar, seguido não tão de
perto por “aquele barbudão que passeia com os cachorros”. Não importa a
alcunha, todo mundo sabe de quem estão falando.
Por falar em som, o caminhão de lixo aqui toca música e
também transmite mensagens, foi até objeto de matéria na televisão, chique
demais né. E o som das maritacas, dos passarinhos e da criançada brincando na
rua permanece constante e forte, que sorte!
Os visitantes mais desavisados continuam se assustando com
os anúncios de falecimento nos auto-falantes da igreja, agora mais modernos e
potentes. Dá pra sentir a cidade parando, as pessoas saindo na porta dos
comércios ou chegando o ouvido mais pertim da janela pra escutar o nome de quem
partiu. Algumas funerárias também costumam anunciar com carro de som, tem uma
até que faz o anúncio com a marcha fúnebre de fundo, coisa assustadora de se
ouvir.
Assustador de verdade foi a pandemia de Covid, a cidade silenciosa e com as entradas
obstruídas por valas, montes de terra e tubos enormes de concreto. Mais de 20
cidadãos nos deixaram com muitas saudades, e eu, contando gente de fora da
cidade, perdi meu pai e mais 3 pessoas próximas e queridas. Muito ruim viver a
história.
O lado bom é que aqui ainda continuamos a sentir o que é
realmente viver em sociedade, e a dor de um acaba amenizada pelo carinho e
empatia de todos.
Por outro lado, a cidade ainda é pequena
e tá todo mundo junto e por isso, se não quiser virar notícia, nada de tentar
fazer xixi na praça ou bobiça dentro do carro. Aliás, o centro da cidade tá
cheim de câmeras, melhor se comportar.
A rádio comunitária perdeu audiência e a rádio da cidade ao lado, que todo
mundo ouvia, perdeu seu maior locutor, o simpaticíssimo Jorge Bala. A turma agora
ouve rádio pela internet, e tem gente da cidade – natural e adotivo - fazendo
sucesso como locutor, dá orgulho.
Em resumo, é isso. Monsenhor Paulo, nossa “PonteArta”
continua livre da miséria e da violência das grandes cidades, continua povoada
de pessoas bonitas, homens e mulheres, agora descendentes dos descendentes da
mistura de italianos e gente da terra. Continua pacata e convidativa, continua
com seus pequenos problemas amenizados por enormes corações. Continua gostando
de foguetes, mas felizmente um pouco menos que antes.
Eu pensava ter escolhido essa cidade, escrevendo o primeiro
texto descobri que foi ela que me escolheu.
E não tenho o menor arrependimento.