sábado, 16 de dezembro de 2023

A FOTO QUE NUNCA HOUVE.


 



                                                                          Nick Cave

Meu amigo "recente" - coisa duns 35 anos apenas - Teteu Roadhell - me visitou há pouco tempo, e entre muitas lembranças e risadas, surgiu esse assunto.

Nos idos de 1993 o músico Australiano Nick Cave (que já era bem famoso entre quem curtia aquele som dito "alternativo) fez um show em Belo Horizonte. Veja bem, ele já havia tocado no Brasil em 1989, e pra aumentar o toque de realismo fantástico dessa estória, se apaixonara por uma brasileira e chegou mesmo a morar em terras paulistas entre 1990 e 1992 (se não me engano).
A questão é que nessa época a gente vivia duro - eu no alto dos meus 20 anos, não raro andava à pé pela cidade pra economizar a grana do busão e poder meiar uma garrafão de 5 litros de vinho barato com meus amigos e curtir o fim de semana - então, comprar um ingresso pra um "show internacional" tava fora de cogitação.
Só que, na época do show, rolou pelo "metiê" da turma "alternatchiva" o boato de que o Nick Cave ia aparecer, depois da apresentação, em um bar que de tão underground devia se situar na litosfera ( mas na verdade ficava no bairro Funcionários mesmo, numa casa de dois andares com ares de abandonada, vários cômodos pequenos interligados por uma escada apertada, tudo decorado com ferro velho), chamada SQUAT (pesquisem o termo pra entender o porquê do nome).
Ora, grana suficiente pra ir no Squat a gente tinha, inclusive já tinha ido e ainda iria em vários shows por lá (Okotô, Chemako, Os Contras... esqueci o nome de outras bandas) que rolavam num pequeno palco apertado onde as paredes até pingavam com a condensação do suor da plateia, formada por punks, darks (como a gente chamava os "góticos" de então), alguns skatistas, músicos de várias tendências, enfim, uma miscelânea.
Chegamos no bar por volta das 23 horas, casa super vazia, uns 10 gatos pingados espalhados pelos ambientes, o que atribuímos ao show. As horas passavam, a casa continuava "meia bomba", o show já deveria ter acabado (imaginávamos) e nada do Nick Cave aparecer. Estávamos quase desistindo quando um burburinho no andar de baixo chamou nossa atenção. Eis que chegava um grupo "grande" (umas 10 pessoas, o que provavelmente aumentaria em 1/3 a ocupação do bar) e no centro de tudo, O CARA, Nick Cave em pessoa. Alto e calado, foi subindo as escadas, conhecendo o bar (alguém fazia o papel de cicerone) e deu de cara com a gente.
CLARO, puxamos assunto em um inglês meio capenga (sem saber que ele entendia bem o português após anos morando em São Paulo) e pra coroar, pedimos pra tirar uma foto!
O que diriam nossos amigos! Seríamos "idolatrados", os "caras que tiraram uma foto com o Nick Cave"! (como a gente é besta quando é jovem, né).
Lembrem-se, era o começo dos anos 90 do século passado, shows internacionais em BH eram raríssimos e não tinha essa de celular com câmera, sequer câmera digital. A coisa era máquina com filme, de revelar mesmo... Lembro que a espera pra revelação foi um suplício. E aí Matheus, revelou?
Até que a foto ficou pronta. E pro nosso desespero, era aquilo ali. Uma gravura desfocada e borrada em preto e branco (filme colorido era mais caro) onde mal dava pra adivinhar minha silhueta (cabelo comprido e nariz arrebitado, à direita da foto) e a "estrela" da vez, no centro, com o que parecia ser um blazer e algo como uma mancha onde estaria o rosto.
Que decepção!
Após alardear pra turma toda nossa façanha, a gente só tinha aquilo pra apresentar.
Foi a "foto que nunca houve".
Hoje rende muitas risadas e uma saudade imensa de um tempo que não volta mais. Já a música do Nick Cave & The Bad Seeds foi ficando cada vez melhor.
Nick Cave e Eu. Squat Bar, BH, 1993.

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